Capítulo 13

Homem e Religião

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O homem é o único ser vivo nesse mundo que descobriu a religião e executa atos de veneração e oração

O homem desenvolveu a religião de maneira a satisfazer seu desejo de entender a vida dentro de si e no mundo lá fora. As primeiras religiões tiveram origem animista, e surgiram do medo do desconhecido e do desejo do homem em aplacar as forças que pensava habitar objetos inanimados. Com o tempo, essas religiões passaram por mudanças, moldadas conforme os ambientes geográfico, histórico, sócio-econômico, político e intelectual existente na época.

Muitas dessas religiões se tornaram organizadas e florescem até hoje, sustentadas por uma grande massa de devotos. Muitas pessoas sentem-se atraídas a religiões organizadas por causa da pompa e cerimônia, enquanto outras preferem praticar sua própria religião pessoal, venerando interiormente seus mestres religiosos e aplicando princípios morais em sua vida diária. Por causa da importância da prática, cada religião clama ser um modo de vida, e não meramente uma fé. Em razão de suas várias origens e caminhos de desenvolvimento porque passaram, não é surpreendente notar que as religiões do homem sejam tão diferentes em suas abordagens, no entendimento e interpretação de seus seguidores, nos seus objetivos e como ele pode ser alcançado, bem como em seus conceitos de recompensa e punição pelas ações executadas.

Em termos de abordagem, as práticas religiosas podem estar baseadas na fé, no medo, na racionalidade ou na não-violência. A fé forma a base de muitas práticas religiosas que se desenvolveram a fim de superar o medo do homem e satisfazer suas necessidades. Uma religião de milagres ou poderes místicos explora tal medo, que surge da ignorância, e faz promessas de ganho material baseado na ganância. Uma religião de devoção é baseada na emoção e no medo do sobrenatural que, assim se acredita, pode ser apaziguado através de ritos e rituais. Uma religião de fé é baseada no desejo em ganhar confiança em face da incerteza da vida humana e de seu destino.

Algumas práticas religiosas cresceram como um resultado do desenvolvimento do conhecimento, experiência e sabedoria do homem. A abordagem racional da religião foi adotada nesse caso, incorporando os princípios de valor humano e de leis naturais ou universais. É baseada no humanismo e se concentra no cultivo das qualidades humanas. Uma religião de causa e efeito ou kamma é baseada no princípio de auto-ajuda e assume que somente o indivíduo é responsável por sua própria felicidade e sofrimento, bem como por sua salvação. Uma religião de sabedoria é baseada na aplicação da razão e busca compreender a vida e a realidade das condições mundanas por meio do conhecimento analítico.

Não-violência e boa-vontade são elementos comuns encontrados na religião. Uma religião de paz é baseada no princípio de não causar dano a si mesmo e aos outros, e seus seguidores devem cultivar uma vida harmoniosa, generosa e pacífica. Uma religião de boa-vontade ou bondade amorosa é baseada no sacrifício e serviço na direção do bem-estar e felicidade dos outros.

Homem e Religião – 2

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As religiões diferem de acordo com a capacidade de compreensão de seus seguidores e das interpretações que as autoridades religiosas dão às doutrinas e práticas religiosas. Em algumas religiões, as autoridades têm uma grande influência na promulgação de leis religiosas e códigos morais, enquanto que, em outras, elas somente provêm conselhos sobre a necessidade e o caminho de como seguir tais códigos. Cada religião oferece razões para explicar a existência dos problemas humanos e suas desigualdades, bem como o caminho para remediar a situação. Algumas religiões dizem que o homem deve enfrentar tais problemas porque ele está sendo julgado nesse mundo. Quando tal explicação é dada, alguém pode perguntar: ‘Para que propósito? Como pode um homem ser julgado com base em apenas uma vida – uma vez que os seres humanos geralmente diferem em suas experiências de fatores e condições no âmbito físico, intelectual, social, econômico e ambiental?’

Cada religião tem seu próprio conceito sobre o que deve ser considerado o objetivo da vida espiritual. Para algumas religiões, a vida eterna no céu ou paraíso com o Senhor é o objetivo final. Para algumas, o objetivo último na vida é a união da consciência universal, porque se acredita que a vida é uma unidade de consciência e então deve retornar à mesma consciência original. Algumas religiões acreditam que o fim do sofrimento ou dos repetidos nascimentos e mortes é o objetivo final. Para outras, mesmo a bênção celestial ou a união com Brahma (criador) é secundária com relação à incerteza da existência, não importando que forma tome. E há mesmo aquelas que acreditam que a vida presente é mais do que suficiente para vivenciar o objetivo da vida.

Para atingir o objetivo desejado, cada religião oferece um método. Algumas religiões pedem que seus seguidores se entreguem a Deus ou dependam de Deus para tudo. Outras exigem um ascetismo severo como meio de se livrar de todo o mal através da auto-mortificação. Algumas outras recomendam a realização de sacrifícios de animais e muitos tipos de ritos e rituais, bem como a recitação de mantras para suas purificações, tudo com a intenção de atingir o objetivo final. Uma outra ainda advoga diversos métodos e devoções, realização intelectual da verdade e concentração da mente através da meditação.

Homem e Religião – 3

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Cada religião tem um conceito diferente de punição para as más ações. De acordo com algumas religiões, o homem está condenado para sempre, por Deus, por causa de suas transgressões nesta vida. Outras dizem que ação e reação (causa e efeito) operam devido a leis naturais e o efeito de uma ação será sentido apenas por um certo período. Algumas religiões mantêm que esta vida é somente uma dentre muitas, e uma pessoa sempre terá a chance de se reformar, em estágios, até finalmente evoluir para atingir o objetivo da Suprema Bênção.

Diante de tamanha variedade de abordagens, interpretações e objetivos das diferentes religiões adotadas pela humanidade, pode ser útil para as pessoas não se apegarem a visões dogmáticas sobre sua religião, mas manterem-se abertas e tolerantes diante de outras visões religiosas.

O Buddha disse: “Alguém não deve aceitar meus ensinamentos por reverência, mas deve primeiro experimentá-los, assim como o ouro é testado pelo fogo”.

Após enfatizar a importância de se manter a mente aberta em relação às doutrinas religiosas, é útil lembrar que uma religião deve ser praticada para o benefício, liberdade e felicidade de todos os seres vivos. Isto é, os princípios religiosos deveriam ser usados positivamente a fim de melhorar a qualidade de vida de todos os seres. Ainda assim, hoje, a humanidade se corrompe e se desvia dos princípios religiosos básicos. Práticas imorais e maléficas se tornaram comuns entre muitas pessoas, e pessoas com uma mente religiosa experimentam dificuldades ao tentar manter certos princípios religiosos na vida moderna. Ao mesmo tempo, o padrão dos princípios religiosos básicos é também diminuído a fim de servir às demandas de mentes poluídas e egoístas. O homem não deveria violar os códigos morais universais a fim de servir à sua própria ganância ou indulgência; pelo contrário, o homem deveria tentar se ajustar em acordo com esses códigos ensinados pela religião. Os preceitos religiosos foram introduzidos por mestres religiosos iluminados, os quais completaram o nobre caminho de vida que leva à paz e à felicidade. Aqueles que violam tais preceitos transgridem as leis universais, o que, de acordo com o Buddhismo, trará maus efeitos devido ao funcionamento da causação moral.

Isso não significa, por outro lado, que uma pessoa deveria seguir servilmente o que é encontrado em sua religião, sem se importar com a aplicabilidade para os tempos modernos. As leis e preceitos religiosos deveriam capacitar as pessoas a levar uma vida significativa, e não devem ser usados para atá-las nem a práticas arcaicas, nem a rituais e crenças supersticiosos. Uma pessoa que sustenta os princípios religiosos básicos deveria dar crédito à inteligência humana e viver de forma respeitável e com dignidade humana. Deve haver algumas mudanças em nossas atividades religiosas a fim de se ajustar à nossa educação e à natureza de nossa sociedade mutável, sem, ao mesmo tempo, sacrificar os nobres princípios universais. Mas se reconhece que fazer modificações em quaisquer práticas religiosas é sempre difícil porque muitas pessoas conservadoras se opõem a mudanças, mesmo quando são para melhor. Tais visões conservadoras são como um lago de água estagnada, enquanto idéias frescas são como uma cascata onde a água constantemente é renovada e, portanto, utilizável.

Distorção da Religião

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Apesar do valor da religião na elevação moral, é também verdade dizer que a religião é um solo fértil para o desenvolvimento de superstições e da hipocrisia devocional, envoltas na roupagem da religiosidade. Muitas pessoas usam a religião para escapar das realidades da vida e vestem as roupas da religião e dos símbolos religiosos. Elas podem até mesmo rezar freqüentemente em locais de adoração, mas, ainda assim, não são sinceramente religiosas e não compreenderam o significado da religião. Quando uma religião foi rebaixada pela ignorância, ganância pelo poder e pelo egoísmo, as pessoas rapidamente apontam o dedo acusador dizendo que a religião é irracional. Mas ‘Religião’ (a prática externa ritualística de qualquer ensinamento) deve ser distinguida do ensinamento em si. Antes de alguém criticar, ele deve estudar os ensinamentos originais do fundador e ver se há algo lá intrinsecamente errado.

A religião aconselha o povo a fazer o bem e ser bom, mas as pessoas não têm interesse nisso. Ao contrário, elas preferem se agarrar a outras práticas que não têm valores religiosos verdadeiros. Se tentassem cultivar suas mentes pela erradicação do ciúme, orgulho, crueldade e egoísmo, teriam pelo menos encontrado o caminho correto para praticar uma religião. Infelizmente, elas desenvolvem ciúme, orgulho, crueldade e egoísmo ao invés de erradicá-los. Muitas pessoas fingem serem religiosas, mas cometem as maiores atrocidades em nome da religião. Elas lutam, discriminam e criam a inquietude em nome da religião, perdendo de vista seu propósito mais alto. Observando o aumento da realização de várias assim chamadas atividades religiosas, podemos ter a impressão de que a religião está progredindo, mas o oposto é realmente o caso uma vez que muito pouca pureza mental e compreensão estão sendo atualmente praticados.

Praticar uma religião nada mais é que o desenvolvimento de uma consciência interna, boa vontade e compreensão. Os problemas devem ser enfrentados diretamente com o suporte da própria força espiritual. Fugir dos próprios problemas em nome do espiritualismo não é corajoso, muito menos deve ser considerado como algo espiritual. Sob as condições caóticas de hoje, homens e mulheres deslizam rapidamente morro abaixo na direção de sua própria destruição. A ironia é imaginarem que estão progredindo em direção a uma gloriosa civilização que ainda será realizada.

Em meio a essa confusão, conceitos religiosos imaginários e maleáveis são propagados a fim de criar mais tentação e confusão na mente do homem. A religião está sendo mal usada para a obtenção de ganho e poder pessoal. Certas práticas imorais, tais como sexo livre, têm sido encorajadas por alguns grupos religiosos irresponsáveis a fim de introduzir sua religião entre os jovens. Fazendo surgir os sentimentos de paixão, esses grupos esperam seduzir meninos e meninas a seguirem sua religião. Hoje, a religião se degenerou numa mercadoria barata no mercado religioso com pouca consideração pelos valores morais e pelo que ela representa. Alguns missionários afirmam que a prática da moral, da ética e dos preceitos não é importante se uma pessoa tem fé e reza para Deus, algo que se acredita ser suficiente para garantir sua salvação. Tendo testemunhado como algumas autoridades religiosas desencaminham e vendam os olhos de seus seguidores na Europa, Karl Marx fez uma observação cáustica: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, os sentimentos de um mundo sem coração, assim como é a alma das condições sem alma. É o ópio do povo”.

O homem precisa de uma religião não para dar a ele um sonho para sua próxima vida ou para provê-lo com algumas idéias dogmáticas para seguir, de uma tal forma que ele renuncie sua inteligência humana e se torne um incômodo para seus companheiros. Uma religião deveria ser um método confiável e razoável para as pessoas viverem ‘aqui e agora’, como seres educados e compreensivos, ao mesmo tempo em que prestam um bom exemplo para os outros seguirem. Muitas religiões viram os pensamentos do homem para longe de si mesmo, na direção de um ser supremo. Mas o Buddhismo dirige a busca do homem pela paz na direção de seu interior, na direção das potencialidades escondidas dentro de si mesmo. ‘Dhamma’ (que significa: sustentar) não é algo que uma pessoa busque fora de si mesma, porque, em última análise, o homem é Dhamma e o Dhamma é homem. Assim, a verdadeira religião, que é Dhamma, não é algo fora de nós que possamos adquir, mas é o cultivo e a realização da sabedoria, compaixão e pureza que desenvolvemos dentro de nós mesmos.

Qual é a Religião Apropriada?

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Se qualquer religião possui as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo, então ela pode ser tomada como uma religião apropriada

É muito difícil para um homem descobrir porque há tantas religiões diferentes, e qual religião é a verdadeira. Os seguidores de cada religião tentam mostrar a superioridade de sua própria. A diversidade criou alguma uniformidade, mas em matéria de religião, os homens olham uns aos outros com ciúmes, ódio e desprezo. As mais respeitáveis práticas religiosas em uma religião são consideradas ridículas por outras. Para introduzir suas mensagens divinas e pacíficas algumas pessoas recorrem a armas e guerras. Com isso, não poluíram o bom nome da religião? Parece que certas religiões são responsáveis por dividir ao invés de unir a humanidade.

A fim de encontrar a religião verdadeira e apropriada, devemos ponderar, com uma mente sem preconceitos, o que exatamente é uma falsa religião. As falsas religiões ou filosofias incluem: materialismo que nega a sobrevivência após a morte; amoralismo que nega o bem e o mal; qualquer religião que afirme que o homem é milagrosamente salvo ou condenado; evolução teísta que diz que tudo é pré-ordenado e cada um é destinado a atingir a salvação através da simples fé.

O Buddhismo é livre de fundamentos insatisfatórios e incertos. O Buddhismo é realista e verificável. Suas Verdades foram verificadas pelo Buddha, verificadas por Seus discípulos, e permanecem sempre abertas para serem verificadas por qualquer um que o deseje fazer. E, hoje, os Ensinamentos do Buddha têm sido verificados pelos mais severos métodos de investigação científica.

O Buddha disse que qualquer forma de religião é apropriada se contiver as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo. Isso mostra claramente que o Buddha não queria formar uma religião em particular. O que Ele desejava era revelar a Verdade Última de nossa vida e do mundo. Apesar de o Buddha ter exposto as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo, esse método não é propriamente somente dos buddhistas. Essa é uma Verdade universal.

A maioria das pessoas acha necessário estabelecer argumentos a fim de ‘provar’ a validade da religião que seguem. Alguns clamam que sua religião é a mais antiga e, portanto, contém a verdade. Outros clamam que sua religião é a mais recente ou a mais nova e, portanto, contém a verdade. Alguns clamam que sua religião tem mais seguidores e, portanto, contém a verdade. Ainda assim, nenhum desses argumentos é válido a fim de estabelecer a verdade de uma religião. Uma pessoa pode julgar o valor da religião somente usando o senso comum e a compreensão.

Algumas tradições religiosas requerem a subserviência do homem a um poder maior que ele mesmo, um poder que controla sua criação, suas ações e sua libertação final. O Buddha não aceitou tais poderes. Ao contrário, Ele colocou no homem todo aquele poder, afirmando que cada homem é seu próprio criador, responsável por sua própria salvação. É por isso que é dito: “Não há alguém sem deus como o Buddha e nem ninguém tão divino”. A religião dos buddhistas dá ao homem um grande senso de dignidade; ao mesmo tempo dá a ele também uma grande responsabilidade. Um buddhista não pode culpar um poder externo quando o mal acontece a ele. Mas ele pode enfrentar o infortúnio com equanimidade, porque sabe que tem o poder para se desembaraçar de toda miséria.

Uma das razões porque o Buddhismo é atraente aos intelectuais e aqueles com boa educação, é que o Buddha expressamente desencorajou Seus seguidores em aceitar qualquer coisa que ouvissem (mesmo se viesse Dele mesmo) sem primeiro testar sua validade. Os ensinamentos do Buddha permaneceram e sobreviveram precisamente porque muitos intelectuais desafiaram cada aspecto de seus ensinamentos e concluíram que o Buddha sempre falou a inegável Verdade. Enquanto outros religiosos tentando “reavaliar” os ensinamentos de seus fundadores à luz do conhecimento moderno sobre o Universo, os ensinamentos do Buddha estão sendo confirmados pelos cientistas.

Desenvolvimento Moral e Espiritual

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Sem um fundo espiritual, o homem não tem responsabilidade moral: o homem sem responsabilidade moral torna-se um perigo para a sociedade

O Buddhismo tem sido um farol admirável guiando muitos devotos para a salvação da eterna bênção. O Buddhismo é especialmente necessário no mundo hoje, tomado que está pelos mal-entendidos raciais, econômicos e ideológicos. Esses mal-entendidos podem nunca ser efetivamente sanados até que o espírito de benevolente tolerância seja estendido aos outros. Esse espírito pode ser melhor cultivado sob a direção do Buddhismo, o qual inculca uma cooperação ético-moral para o bem universal.

Sabemos que é fácil aprender os vícios sem um mestre, enquanto que a virtude requer um tutor. Há uma grande necessidade do ensinamento sobre a virtude através dos preceitos e exemplos. Sem um fundo espiritual, o homem não tem responsabilidade moral: o homem sem responsabilidade moral torna-se um perigo para a sociedade.

No Ensinamento do Buddha, é dito que o desenvolvimento espiritual do homem é mais importante do que o desenvolvimento do bem-estar material. A história nos ensinou que não podemos esperar o ganho tanto da felicidade mundana quanto da Felicidade eterna ao mesmo tempo. As vidas da maioria das pessoas são geralmente reguladas pelos valores espirituais e princípios morais que somente a religião pode efetivamente prover. A interferência governamental nas vidas das pessoas torna-se comparativamente desnecessária se homens e mulheres puderem compreender o valor da devoção e puderem praticar os ideais de verdade, justiça e serviço.

A virtude é necessária para atingir a salvação, mas sozinha não é suficiente. A virtude deve ser combinada com a sabedoria. Virtude e sabedoria são como o par de asas de um pássaro. A sabedoria pode também ser comparada aos olhos de um homem; a virtude, a seus pés. A virtude pode ser comparada a um veículo que traz o homem até aos portões da salvação. Mas a sabedoria é a chave de fato que abre esse portão. A virtude é uma parte da técnica para uma vida habilidosa e nobre. Sem nenhuma disciplina ética, não pode haver uma purificação das impurezas da existência senciente.

O Buddhismo não consiste meramente de palavras desconexas, um mito relatado para entreter a mente humana ou para satisfazer a emoção humana, mas um método libertador e nobre para aqueles que sinceramente queiram entender e experienciar a realidade da vida.

A Idéia de Deus

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A realidade ou a validade da crença em Deus é baseada na capacidade de compreensão e da maturidade da mente do homem

O desenvolvimento da Idéia de Deus

A fim de descobrir a origem e o desenvolvimento da idéia de Deus, deve-se voltar no tempo quando a civilização ainda estava em sua infância e a ciência moderna era desconhecida. Povos primitivos, cheios de medo e admiração em relação aos fenômenos naturais, acreditavam em diferentes espíritos e deuses. Eles usavam essa crença em espíritos e deuses para formar suas próprias religiões. De acordo com suas respectivas circunstâncias e capacidade de compreensão, diferentes pessoas veneravam diferentes deuses, fundando diferentes fés.

No início da idéia de Deus, as pessoas louvavam muitos deuses – deuses das árvores, rios, relâmpagos, tempestades, ventos, sol e todos os outros fenômenos terrestres. Tais deuses estavam relacionados a cada ato da natureza. Então, gradualmente, o homem começou a atribuir a esses deuses, sexo e formas, assim como as características físicas e mentais dos seres humanos. Atributos humanos eram dados aos deuses: amor, ódio, ciúme, medo, orgulho, inveja e outras emoções encontradas entre os seres humanos. De todos esses deuses, lentamente nasceu uma compreensão de que os fenômenos do universo não eram muitos, mas Um. Essa compreensão deu surgimento ao deus monoteísta das eras recentes.

No processo do desenvolvimento, a idéia de Deus passou por uma variedade de climas sociais e intelectuais mutáveis. Era tida por diferentes homens em diferentes formas. Alguns idealizavam deus como o Rei do Céu e da Terra; tinham uma concepção de deus como uma pessoa. Outros pensavam deus como um princípio abstrato. Alguns elevavam o éideal de deidade Suprema ao mais alto céu, enquanto outros traziam-no para baixo até as camadas mais inferiores da terra. Alguns imaginaram deus num paraíso, enquanto outros o tornaram um ídolo e o adoraram. Alguns foram tão longe a ponto de dizer que não há salvação sem deus – não importando quanto bem você faça, não receberá os frutos de suas ações a menos que sua ação seja vinda de uma fé em deus. Os ateístas dizem: ‘Não’ e seguem afirmando que deus não existe de modo algum. Os céticos ou agnósticos dizem: ‘Não sabemos ou não podemos saber’. Os positivistas dizem que a idéia de Deus foi um problema sem sentido uma vez que a idéia do termo deus ‘não estava clara’. Assim, nasceu uma variedade de idéias, crenças e nomes para a idéia de Deus: panteísmo, idolatria, crença em um deus sem forma e crença em muitos deuses e deusas.

Mesmo o deus monoteísta dos tempos recentes passou por uma variedade de mudanças à medida que passou por diferentes nações e povos. O deus hindu é bastante diferente do deus cristão. O deus cristão é também diferente dos deuses de outras fés. E, assim, numerosas religiões vieram a existir; cada qual diferindo enormemente uma da outra no final, e cada uma dizendo que ‘Deus é Um’.

A Idéia de Deus e a Criação

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À medida que cada religião apareceu e se desenvolveu a partir da idéia de Deus, a religião desenvolveu sua própria explicação particular da criação. Assim, a idéia de Deus se tornou associada a vários mitos. As pessoas usaram a idéia de Deus como um veículo para suas explicações sobre a existência do homem e a natureza do universo.

Hoje, homens inteligentes que cuidadosamente revisaram todos os fatos disponíveis, chegaram à conclusão de que, como a idéia de Deus, a criação dos mitos deve ser considerada como uma evolução da imaginação humana que começou com mal-entendimento do fenômeno da natureza. Tais mal-entendidos estiveram enraizados no medo e na ignorância do homem primitivo. Mesmo hoje, o homem ainda retém suas interpretações primitivas da criação. À luz do pensamento científico recente, a definição teológica de deus é vaga e, daí, não ter lugar nas teorias ou mitos contemporâneos da criação.

Se o homem é criado por uma fonte externa, então, ele deve pertencer àquela fonte e não a ele mesmo. De acordo com o Buddhismo, o homem é responsável por tudo o que faz. Assim, os buddhistas não têm motivo para acreditar que o homem veio à existência na forma humana por meio de quaisquer fontes externas. Acreditam que o homem está aqui hoje por causa de suas próprias ações. Nem é punido nem recompensado por ninguém exceto por ele mesmo, de acordo com sua própria ação: boa e má. No processo da evolução, o ser humano surgiu. Entretanto, não há nenhuma palavra do Buddha que sustente a crença de que o mundo foi criado por alguém. A descoberta científica do desenvolvimento gradual do sistema mundial se conforma aos Ensinamentos do Buddha.

Fraqueza Humana e o Conceito de Deus

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Tanto o conceito de Deus com os mitos de criação associados foram protegidos e defendidos pelos crentes que necessitam dessas idéias para justificar sua existência e sua utilidade para a sociedade humana. Todos os crentes proclamam ter recebido suas respectivas escrituras como uma Revelação; em outras palavras, todos professam vir diretamente do Deus único. Cada religião baseada em Deus proclama que defende a Paz Universal e a Fraternidade Universal, além de outros altos ideais.

Por maiores que sejam os ideais das religiões, a história do mundo mostra que as religiões, até os dias de hoje, também têm ajudado a espalhar as superstições. Algumas se opuseram à ciência e ao avanço do conhecimento, levando a sentimentos ruins, assassinatos e guerras. A esse respeito, as religiões baseadas em Deus falharam em sua tentativa de iluminar a humanidade. Por exemplo, em certos países quando as pessoas oram por misericórdia, suas mãos ficam tingidas com o sangue de sacrifícios mórbidos de animais inocentes e, algumas vezes, até mesmo de seres humanos. Essas pobres e indefesas criaturas foram abatidas em desacralizados altares de deuses imaginários e imperceptíveis. Levou um longo tempo para que as pessoas compreendessem a futilidade de tais práticas cruéis em nome da religião. O momento chegou para que compreendam que o caminho da verdadeira purificação é através do amor e da compreensão.

Dr. G. Dharmasiri em seu livro A Crítica Buddhista ao Conceito Cristão de Deus mencionou: “Percebo que embora a noção de Deus contenha traços morais sublimes, ela também tem certas implicações que são extremamente perigosas para os humanos, tanto como para outros seres nesse planeta”.

Uma das maiores ameaças à humanidade é a venda chamada ‘autoridade’, imposta aos humanos pelo conceito de Deus. Todas as religiões teístas consideram a autoridade como derradeira e sagrada. Foi esse o perigo que o Buddha apontou no Kalama Sutta. No momento, a individualidade humana e a liberdade estão seriamente ameaçadas por várias formas de autoridade. Várias ‘autoridades’ têm buscado fazer de ‘você’ um seguidor. Além de todas as nossas autoridades ‘tradicionais’, uma nova forma de autoridade emergiu em nome da ‘ciência’. E, nos últimos tempos, a propagação de novas religiões e a ameaça dos Gurus (exemplificados por Jim Jones), tornaram-se ameaças vivas à liberdade e a dignidade humana do indivíduo. O pedido eterno do Buddha é para você se tornar um Buddha, e Ele mostrou, de uma forma claramente racional, que cada um de nós tem o potencial e capacidade perfeitos para atingir esse ideal”.

As religiões baseadas em Deus não oferecem salvação sem Deus. Dessa forma, podemos imaginar que um homem possa ter escalado os mais altos pináculos da virtude, e possa ter vivido uma vida correta, e ter mesmo atingido o mais alto nível de santidade, mas, ainda assim, ser condenado ao inferno eterno apenas por não acreditar na existência de Deus. Por outro lado, um homem pode ter pecado profundamente e, ainda assim, tendo se arrependido tardiamente, ter sido perdoado e, portanto, ‘salvo’. Do ponto de vista buddhista, não há explicação para esse tipo de doutrina.

Apesar das aparentes contradições das religiões baseadas em Deus, não é considerado algo aconselhável pregar uma doutrina sem Deus uma vez que a crença em deus tem prestado também um tremendo serviço à humanidade, especialmente em lugares em que o conceito de deus é desejável. Essa crença em deus tem ajudado a humanidade a controlar sua natureza animal. E muita ajuda foi dada a outros em nome de deus. Ao mesmo tempo, o homem se sente inseguro sem a crença em deus. Ele encontra proteção e inspiração quando essa crença está em sua mente. A realidade ou validade de tal crença é baseada na capacidade de compreensão e maturidade espiritual do homem.

Entretanto, a religião deveria também lidar com nossa vida prática. Deve ser usada como um guia para regular nossa conduta no mundo. A religião nos diz o que fazer e o que não fazer. Se não seguirmos a religião sinceramente, meros rótulos religiosos ou crenças em deus não nos servirão em nossa vida diária.

Por outro lado, se os seguidores das várias religiões brigarem e condenarem as outras crenças e práticas – especialmente a fim de provar ou negar a existência de Deus – e se alimentarem a raiva com relação a outras religiões por causa de suas diferentes visões religiosas, então criarão uma enorme desarmonia entre as várias comunidades religiosas. Quaisquer diferenças religiosas que possamos ter, é nosso dever praticar a tolerância, a paciência e a compreensão. É nosso dever respeitar a crença religiosa de um outro homem, mesmo que não consigamos nos acomodar a ela; a tolerância é necessária para que haja um viver harmonioso e pacífico.

Entretanto, não serve a nenhum propósito introduzir esse conceito de deus para aqueles que não estão prontos para apreciá-lo. Para algumas pessoas essa crença não é importante a fim de levar uma vida correta. Há muitos que levam uma vida nobre sem tal crença, enquanto que entre crentes há muitos que violam a paz e a felicidade das pessoas inocentes.

Os buddhistas também podem cooperar com aqueles que mantêm esse conceito de deus, se tais pessoas usarem esse conceito para a paz, felicidade e bem-estar da humanidade, mas não com aqueles que abusam deste conceito ameaçando as pessoas a fim de introduzir essa crença apenas para seu próprio benefício e com motivos secundários.

Por mais de 2500 anos, em todo o mundo, os buddhistas praticaram e introduziram o Buddhismo muito pacificamente sem a necessidade de defender o conceito de um Deus criador. E continuarão a manter essa religião da mesma maneira sem perturbar os seguidores de outras religiões.

Dessa forma, com o devido respeito a outros religiosos, deve ser mencionado que qualquer tentativa de introduzir esse conceito no Buddhismo é desnecessário. Deixem que os buddhistas tenham suas crenças, pois isso não causa dano aos outros; deixem que os Ensinamentos básicos do Buddha permaneçam.

Desde tempos imemoriais, os buddhistas tiveram uma vida religiosa pacífica sem incorporar o conceito particular de Deus. Eles devem ser capazes de sustentar sua religião particular sem a necessidade, nessa altura, de alguém tentar forçar algo goela abaixo contra sua vontade. Tendo total confiança em seu Buddha Dhamma, os buddhistas devem ser permitidos trabalhar e buscar sua própria salvação sem qualquer interferência indevida de outras fontes. Outros podem manter suas crenças e conceitos, e os buddhistas irão apoiar as deles, sem nenhum rancor. Não desafiamos os outros com relação às suas crenças religiosas, e esperamos um tratamento recíproco com relação às nossas próprias crenças e práticas.

Mudar de rótulo religioso antes da morte

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Meramente acreditar que há alguém para lavar nossos pecados sem suprimir nosso estado mental maléfico, não está de acordo com os Ensinamentos do Buddha.

Muito freqüentemente encontramos casos de pessoas que mudam de religião no último momento, quando estão para morrer. Abraçando uma outra religião, algumas pessoas imaginam, enganosamente, que podem ser “limpas de seus pecados”, ganhando um acesso fácil para o céu. Elas esperam também assegurar para si mesmas um enterro simples e melhor. Para pessoas que viveram toda uma vida em uma religião em particular, o abraçar repentino de uma religião que é totalmente nova e não familiar – esperando uma salvação imediata por meio da nova fé é, realmente, difícil de acreditar. Isso é apenas um sonho. Sabe-se mesmo de algumas pessoas que se converteram para uma outra fé quando estavam em um estado de inconsciência e, em alguns casos, até mesmo postumamente. Aqueles que são extremistas em suas preocupações e loucos por converterem outros para sua fé, desviaram pessoas de pouca cultura na crença de que sua fé é ‘a’ fé – a única possuidora de um método fácil ou de um atalho para o céu. Se as pessoas forem levadas a acreditar que há alguém sentado em algum lugar, lá em cima, que possa lavar todos os pecados cometidos durante o período de vida, então essa crença somente encorajará outros a cometerem o mal.

De acordo com os Ensinamentos do Buddha, não há uma crença de que existe alguém que possa lavar os pecados. Somente quando as pessoas sinceramente compreenderem que aquilo que estão fazendo está errado e – após ter percebido isso, tentarem corrigir sua vida e fazer o bem – é que poderão suprimir ou contrapor as más reações que chegarão a eles devido ao mal que cometeram.

Tornou-se uma visão comum, em muitos hospitais, ver defensores de algumas religiões pairando em volta dos pacientes, prometendo-lhes ‘vida após a morte’. Isto é explorar a ignorância básica e o medo psicológico dos pacientes. Se quisessem realmente ajudar, então seriam capazes de operar os ‘milagres’ que tão orgulhosamente reivindicam para seus livros sagrados. Se puderem operar milagres, então não precisaremos de hospitais. Os buddhistas não devem nunca se tornar vítimas dessas pessoas. Devem aprender os ensinamentos básicos de sua nobre religião, os quais dizem que todo sofrimento é a herança da humanidade. O único modo de terminar com o sofrimento é pela purificação da mente. O indivíduo cria seu próprio sofrimento e somente ele poderá fazê-lo cessar. Não se pode esperar erradicar as conseqüências de suas ações maléficas simplesmente mudando o rótulo religioso à beira da morte.

O destino de um homem que está morrendo em sua vida futura depende dos últimos pensamentos que aparecerem a ele de acordo com o bom e o mau kamma que tiver acumulado durante sua vida corrente, independentemente de qual tipo de rótulo religioso ele preferir portar no último momento.