Capítulo 07

Parte Três

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Parte Três: Levando uma Vida Buddhista

Capítulo 7 – Fundação Moral para a Humanidade

Qual é o propósito da vida?

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O Ser Humano é o mais alto fruto da árvore de desenvolvimento. Depende do indivíduo perceber essa posição na existência e compreender o verdadeiro significado de sua vida. O propósito da vida é alcançar o fim do sofrimento ou insatisfatoriedade.

Para conhecer o propósito da vida, primeiro devemos observá-la a partir de nossas experiências e insight. Iremos, então, descobrir por nós mesmos seu verdadeiro significado. Diretrizes podem ser dadas, mas devemos criar por nós mesmos as condições necessárias para o surgimento da realização.

Há diversos pré-requisitos para a descoberta do propósito da vida. Primeiro, precisa compreender a natureza da vida humana. Em seguida, mantenha sua mente calma e pacífica adotando práticas religiosas. Cumpridas essas condições, a resposta que procura chegará como a gentil chuva que cai do céu.

Compreendendo a natureza dos seres humanos

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Os seres humanos podem ser espertos o suficiente para pousar na lua e descobrir coisas maravilhosas no universo, mas precisam ainda se aprofundar no funcionamento interno de suas próprias mentes. Devem ainda aprender como suas mentes podem ser desenvolvidas no seu potencial total, de forma que sua verdadeira natureza seja realizada.

Enquanto isso, os seres humanos estão ainda envoltos na ignorância. Não sabem quem são realmente ou o que é esperado deles. Como resultado, interpretam mal todas as coisas e agem de acordo com suas imaginações. Não é concebível que toda nossa civilização seja construída com base nessa interpretação errônea? O fracasso em entender a existência nos leva a assumir uma falsa identidade de um egoísta inchado e que pensa apenas em si mesmo e fingir sermos o que não somos ou somos incapazes de ser.

As pessoas devem fazer um esforço para superar a ignorância e chegar à realização e à Iluminação. Todas as grandes pessoas nasceram como seres humanos a partir de um útero, mas fizeram o trabalho na direção ascendente para a grandeza. Realização e Iluminação não podem ser derramadas no coração humano como água num tanque. Mesmo o Buddha teve que cultivar Sua mente a fim de realizar a real natureza da vida humana.

Os seres humanos podem ser iluminados – tornarem-se um Buddha – se acordarem de seu ‘sonho’, o qual é criado por sua própria ignorância, e se tornarem totalmente despertos. Precisam compreender que aquilo que hoje são é o resultado de um infinito número de pensamentos e ações repetidos. Não são seres prontos; estão em contínuo processo de vir a ser, sempre mudando. E é nessa característica de mudança que jaz seu futuro, porque isso significa que é possível para ele moldar seu caráter e destino através do controle de suas ações, linguagem e pensamentos. De fato, eles se tornam os pensamentos e ações que escolheram realizar. São o mais alto fruto da árvore de desenvolvimento. Depende deles perceber essa posição na existência e compreender o verdadeiro significado da vida.

Compreendendo a natureza da vida

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A maioria das pessoas não gosta de enfrentar os fatos da vida e prefere se enganar com um falso senso de segurança por meio de sonhos e imaginações. As pessoas confundem a sombra com a substância. Fracassam em compreender que a vida é incerta, mas a morte é certa. Um modo de entender a vida é enfrentar e compreender a morte, a qual nada mais é que um fim temporário para uma existência temporária. Muitas pessoas não gostam nem mesmo de ouvir a palavra ‘morte’. Esquecem de que a morte virá, gostando ou não. Lembrar-se da morte com a correta atitude mental pode dar a uma pessoa a coragem e a calma bem como um insight em relação à natureza da existência.

Além de entender a morte, precisamos de um melhor entendimento de nossa vida. Vivemos uma vida que nem sempre corre tão suavemente como gostaríamos. Muito frequentemente, enfrentamos problemas e dificuldades. Não deveríamos ter medo deles porque a penetração na verdadeira natureza desses problemas e dificuldades pode nos prover com um insight mais profundo sobre a vida. A felicidade mundana da riqueza, luxo, posições respeitáveis na vida que a maioria das pessoas busca é uma ilusão, porque é impermanente. O fato do aumento proporcional na venda de pílulas para dormir e tranquilizantes, na admissão em hospitais mentais e das taxas de suicídio em relação ao progresso material moderno é testemunho suficiente de que temos que ir além do prazer material e mundano a fim de encontrar a verdadeira felicidade. Isso não significa, é claro, que o Buddhismo é uma religião negativa que condena a aquisição de riqueza. Longe disso. O Buddha expressamente encorajou o trabalho duro a fim de enriquecer, pois disse que a riqueza pode dar a uma pessoa a oportunidade de viver uma vida decente e fazer ações meritórias. O que Ele desencorajou foi o apego a esta riqueza e a crença de que somente a riqueza pode trazer a felicidade derradeira.

A necessidade de uma religião

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Para entender o real propósito da vida é aconselhável que alguém escolha e siga um sistema ético-moral que desencoraje as ações maléficas, encoraje o bem e possibilite a purificação da mente. Falando de forma simples, chamaremos esse sistema de ‘religião’.

Religião é uma expressão do esforço dos seres humanos: é sua maior fonte de poder, levando-os para frente na direção de sua autorealização. Isso tem o poder de transformar uma pessoa com características negativas em alguém com qualidades positivas. Transforma o ignóbil em nobre; o egoísta em altruísta; o orgulhoso em humilde; o soberbo em paciente; o cobiçoso em benevolente; o cruel em amável; o subjetivo em objetivo. Cada religião representa, ainda que imperfeitamente, um escalar de um nível mais alto de ser. Desde os tempos mais antigos, as religiões têm sido uma fonte de inspiração artística e cultural para a humanidade. Embora muitas formas de religião tenham aparecido no curso da história, somente para desaparecerem e serem esquecidas depois, cada uma em seu tempo contribuiu com algo para a soma total do progresso humano. O Cristianismo ajudou a civilizar o Ocidente e o enfraquecimento de sua influência marcou uma tendência descendente do espírito ocidental. O Buddhismo, que civilizou a maior parte do Oriente muito tempo antes, é ainda uma força vital; e nessa era de conhecimento científico provavelmente estenderá e fortalecerá sua influência. Em nenhum ponto entra em conflito com o conhecimento moderno, mas o engloba e o transcende de uma forma que nenhum outro sistema de pensamento já o fez ou provavelmente venha a fazer. O homem ocidental procura conquistar o universo para fins materiais. O Buddhismo e a filosofia oriental se esforçam para atingir a harmonia com a natureza ou aumentar a satisfação espiritual.

A religião ensina uma pessoa a acalmar os sentidos e tornar pacíficos o coração e a mente. O segredo para acalmar os sentidos é eliminar o desejo, que é a raiz de nossas perturbações. É muito importante para nós termos contentamento. Quanto mais as pessoas almejam por propriedade mais terão que sofrer. Propriedades não trazem felicidade. Muitas pessoas ricas no mundo estão hoje sofrendo de numerosos problemas físicos e mentais. Com todo o dinheiro que têm não conseguem comprar uma solução para seus problemas. Porém os mais pobres que aprenderam a ter contentamento podem desfrutar de suas vidas muito mais do que os ricos. Como um verso diz:

‘Alguns têm demais, mas ainda assim ambicionam,
Eu tenho pouco e nada mais busco;
Eles nada mais são do que pobres, ainda que muito tenham
E eu sou rico com pouco guardado.
Eles pobres, eu rico; eles imploram, eu dou;
Carentes eles, eu tenho; eles definham, eu vivo’.

Buscando um propósito na vida

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O objetivo na vida varia de indivíduo para indivíduo. Um artista pode almejar pintar obras de arte que durarão muito após sua morte. Um cientista pode querer descobrir um novo fenômeno, formular uma nova teoria ou inventar uma nova máquina. Um político pode desejar se tornar primeiro ministro ou presidente. Um jovem executivo pode almejar ser o diretor de uma companhia multinacional. Mas quando você pergunta ao artista, ao cientista, ao político e ao jovem executivo porque eles almejam tal coisa, eles responderão que essas conquistas lhes darão um propósito na vida e lhes farão felizes. Mas todas essas conquistas lhes trarão felicidade derradeira? Todos almejam pela felicidade na vida, mas ainda assim sofrem mais ainda no processo. ‘O valor da vida não está na duração dos dias, mas no uso que fazemos deles. As pessoas podem viver muito sem fazer qualquer serviço a ninguém e, assim, viver muito pouco’.

Compreensão

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Quando compreendemos a natureza da vida (caracterizada pela insatisfatoriedade, mudança e ausência de ego), assim como a natureza da ganância e dos meios para conseguir satisfação, podemos entender a razão porque a felicidade tão desesperadamente buscada por muitas pessoas é tão escorregadia quanto tentar pegar um raio de lua nas mãos. As pessoas tentam obter a felicidade através da acumulação. Quando não são bem sucedidas no acúmulo de riquezas, obter posições, poder e honra, e tirar prazer derivado da gratificação dos sentidos, elas definham e sofrem, invejando os outros que obtiveram sucesso no que queriam. Entretanto, mesmo quando são ‘bem sucedidas’ em obter tais coisas, elas também sofrem, pois temem então perder o que conseguiram obter; ou seus desejos agora aumentaram por ainda mais riqueza, posições superiores, mais poder e grandes prazeres. Seus desejos parecem nunca poder ser saciados completamente. Essa é a razão porque um entendimento da vida é importante de maneira a não gastarmos tanto tempo fazendo o impossível.

É aqui que a adoção de uma religião se torna importante, uma vez que encoraja o contentamento e estimula a pessoa a olhar para além das demandas da carne e do ego. Numa religião como o Buddhismo, as pessoas são lembradas de que são herdeiras de seu karma e mestras de seus destinos. De forma a ter mais felicidade, elas devem estar preparadas para adiar prazeres em curto prazo. Se não acreditam na vida após a morte, ainda assim é suficiente levarem uma vida boa e nobre sobre a terra, usufruindo uma vida de paz e felicidade aqui e agora, enquanto executam ações que são para o benefício e felicidade dos outros. Levar tal vida positiva e saudável sobre a terra e criar felicidade para si e para os outros é muito melhor que uma vida egoísta tentando satisfazer o próprio ego e cobiça. Se não sabemos como viver segundo a expectativa dos outros, como podemos esperar que os outros vivam de acordo com nossas expectativas?

Compreensão – 2

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Quando as pessoas entendem a natureza da vida humana, então surgem algumas importantes compreensões. Elas percebem que ao contrário de uma rocha ou pedra, o ser humano possui o potencial inato para crescer em sabedoria, compaixão e atenção – e ser transformado por esse autodesenvolvimento e crescimento. Também entendem que não é fácil nascer como um ser humano, especialmente tendo a oportunidade de ouvir o Dhamma. Além disso, torna-se completamente claro de que a vida é impermanente e, portanto, devem se esforçar para praticar o Dhamma enquanto ainda estão numa posição de poderem agir. Percebem que a prática do Dhamma é um processo educativo de toda uma vida que capacita a realizar seus verdadeiros potenciais escondidos na mente pela ignorância e pela cobiça.

Baseadas nessas realizações e compreensão, tentarão assim estar mais conscientes sobre o quê e como pensam, falam e agem. As pessoas ponderarão se seus pensamentos, linguagem e ações são benéficos, feitos a partir da compaixão e têm bons efeitos para si mesmas e para os outros. Compreenderão o verdadeiro valor de andar no caminho que leva à completa autotransformação, caminho conhecido no Buddhismo como Nobre Caminho Óctuplo. Essa Via pode ajudar as pessoas a desenvolverem sua força moral (sila) pela contenção das ações negativas e pelo cultivo das qualidades positivas que conduzem ao crescimento pessoal, mental e espiritual. Além disso, contém muitas técnicas que podem aplicar para purificar seus pensamentos, expandir as possibilidades da mente e realizar uma completa mudança na direção de uma personalidade saudável. Tal prática de cultura mental (bhavana) pode ampliar e aprofundar a mente na direção de um melhor entendimento da natureza e características dos fenômenos, da vida e do universo. Em síntese, ela leva ao cultivo da sabedoria (panna). À medida que a sabedoria cresce, assim também crescerão amor, compaixão, bondade e alegria. E as pessoas terão uma consciência maior de todas as formas de vida e um melhor entendimento de seus próprios pensamentos, sentimentos e motivações.

No processo da autotransformação, as pessoas não mais aspirarão por um nascimento divino como seu objetivo último na vida. Almejarão muito mais alto e adotarão como modelo o próprio Buddha, o qual alcançou o ápice da perfeição humana e atingiu o inefável estado que chamamos de Iluminação ou Nibbana. É aqui que desenvolvemos uma confiança profunda na Tríplice Gema e adotamos o Buddha como nosso ideal espiritual. Iremos nos esforçar para erradicar a cobiça, desenvolver sabedoria e compaixão e completamente nos libertarmos do limites do Samsara.

O Buddhismo para os seres humanos na sociedade

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Essa religião pode ser praticada tanto na sociedade como em reclusão

Algumas pessoas acreditam que o Buddhismo é um sistema tão etéreo e sublime que não seria possível de ser praticado por homens e mulheres comuns no mundo do trabalho do dia a dia. Elas pensam que é preciso se retirar para um mosteiro ou algum lugar quieto caso se deseje ser um verdadeiro buddhista.

Esse é um triste engano que vem de uma falta de entendimento sobre o modo de vida buddhista. As pessoas saltam para tais conclusões após terem lido ou ouvido casualmente algo sobre o Buddhismo. Alguns formam sua impressão sobre o Buddhismo depois de terem lido artigos ou livros que dão apenas uma visão parcial ou distorcida do Buddhismo. Os autores de tais artigos e livros têm apenas uma compreensão limitada do Ensinamento do Buddha. Seu Ensinamento não é dirigido somente para os monges nos mosteiros. O Ensinamento é destinado também para homens e mulheres comuns morando em casa com suas famílias. O Nobre Caminho Óctuplo é o modo buddhista de vida que se dirige a todas as pessoas. Esse modo de vida é oferecido para toda a humanidade sem qualquer distinção. Quando quatro aspectos da vida, a saber, vida familiar, vida dos negócios, vida social e vida espiritual são satisfatoriamente harmonizados, a felicidade duradoura é atingida.

A grande maioria das pessoas no mundo não pode se tornar monges ou se retirar para cavernas ou florestas. Não importaria quão nobre e puro o Buddhismo fosse, ele seria inútil para as massas se elas não pudessem segui-lo em suas vidas diárias no mundo moderno. Mas se você compreender o espírito do Buddhismo corretamente, certamente poderá segui-lo e praticá-lo enquanto vive a vida de uma pessoa comum.

O Buddhismo para os seres humanos na sociedade – 2

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Alguns podem achar mais fácil e conveniente praticar o Buddhismo morando num lugar remoto; em outras palavras, se separando da sociedade. Já outras pessoas podem achar que este tipo de reclusão entorpece e deprime todo seu ser, tanto física como mentalmente e que, portanto, pode não ser apropriado para o desenvolvimento de sua vida espiritual e intelectual.

A verdadeira renúncia não significa correr fisicamente para longe do mundo. Sariputta, o discípulo-chefe do Buddha, disse que um homem pode viver numa floresta se dedicando a práticas ascéticas, mas pode estar cheio de pensamentos impuros e ‘aflições’. Outro pode viver num vilarejo ou numa cidade, não praticar uma disciplina ascética, mas sua mente pode ser pura e livre de ‘aflições’. “Desses dois tipos”, disse Sariputta, “o que vive uma vida pura no vilarejo ou na cidade é definitivamente muito superior ao que vive na floresta” (Majjhima Nikaya).

A crença comum de que para seguir o Ensinamento do Buddha é preciso se retirar da vida familiar normal é um conceito errado. É realmente uma defesa inconsciente contra praticá-la. Há numerosas referências na literatura buddhista a homens e mulheres vivendo uma vida normal, vidas comuns em família, e que de forma bem sucedida praticaram aquilo que o Buddha ensinou, realizando o Nibbana. Vacchagotta, o Andarilho, perguntou certa vez diretamente ao Buddha se havia homens e mulheres laicos, levando uma vida em família, que seguiam Seu Ensinamento com sucesso e atingiram altos estados espirituais. O Buddha categoricamente afirmou que havia muitos laicos e laicas levando uma vida em família que tinham seguido Seu Ensinamento de forma bem sucedida e atingido altos estados espirituais.

Para algumas pessoas pode ser agradável viver uma vida retirada em um lugar quieto, longe do barulho e das perturbações. Mas é certamente mais corajoso e digno de louvor praticar o Buddhismo vivendo entre os seres amigos, ajudando-os e oferecendo serviço a eles. Pode ser útil em alguns casos uma pessoa viver retirada por um tempo a fim de desenvolver a mente e o caráter, como algo preliminar ao treinamento moral, espiritual e intelectual, e a fim de ser forte o suficiente para mais tarde vir a ajudar os outros. Mas se uma pessoa vive toda sua vida em solidão, pensando apenas em sua felicidade e salvação pessoal, sem se preocupar com seus companheiros, isso certamente não está de acordo completo com o Ensinamento do Buddha, o qual é baseado no amor, compaixão e serviço aos outros.