Capítulo 14

A Religião Moderna

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O Buddhismo é forte o suficiente para enfrentar quaisquer visões modernas que possam desafiar a religião

As idéias buddhistas contribuíram muito para o enriquecimento tanto do pensamento antigo quanto do moderno. Seu ensinamento sobre a causação e o relativismo, sua doutrina sobre os dados dos sentidos, seu pragmatismo, sua ênfase sobre a moral, sua não-aceitação de uma alma permanente, sua despreocupação com relação a forças externas sobrenaturais, sua negação de ritos e rituais religiosos desnecessários, seu apelo à razão e à experiência e sua compatibilidade com as descobertas científicas, tudo isso tende a estabelecer sua reivindicação pela modernidade.

O Buddhismo é capaz de preencher todos os requisitos de uma religião racional que se encaixa nas necessidades do mundo futuro. Ela é tão científica, tão racional, tão progressista que será um orgulho para um homem no mundo moderno se chamar de buddhista. De fato, o Buddhismo é mais científico em sua abordagem do que a ciência; ele é mais socialista do que o socialismo.

Entre todos os grandes fundadores de religiões, foi somente o Buddha que encorajou o espírito de investigação entre Seus seguidores e que os advertiu a não aceitar com fé cega, mesmo Seus Ensinamentos. Portanto, não é exagero dizer que o Buddhismo pode ser chamado de uma religião moderna.

O Buddhismo é um esquema bem elaborado a respeito de como levar uma vida prática e um sistema bem pensado de autocultura. Mais que isso, é um método científico de educação. Essa religião é melhor capaz, em qualquer crise, de restaurar nossa paz mental e nos ajudar a enfrentar calmamente quaisquer mudanças que o futuro nos reserve.

Sem o prazer sensorial, a vida seria tolerável? Sem a crença na imortalidade, pode o homem ser moral? Sem recorrer à divindade, pode o homem avançar em direção à retidão? SIM, é a resposta dada pelo Buddhismo. Tais objetivos podem ser atingidos pelo conhecimento e pela purificação da mente. O conhecimento é a chave para o caminho superior. A purificação é o que leva a calma e a paz para a vida e torna o homem indiferente e desapegado dos caprichos do mundo fenomênico.

O Buddhismo é verdadeiramente uma religião que se adapta ao mundo moderno e científico. A luz que vem da natureza, da ciência, da história, da experiência humana, de cada ponto do universo, fica radiante com os Nobres Ensinamentos do Buddha.

A Religião numa Era Científica

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Religião sem ciência é aleijada, enquanto ciência sem religião é cega

Vivemos hoje numa era científica na qual quase todos os aspectos de nossa vida foram afetados pela ciência. Desde a revolução científica durante o século XVII, a ciência continuou a exercer tremenda influência sobre o que pensamos e fazemos.

O impacto da ciência tem sido particularmente forte nas crenças religiosas tradicionais. Muitos conceitos religiosos básicos se desfazem sob a pressão da ciência moderna e não são mais aceitáveis para o homem intelectual e bem informado. Não mais é possível afirmar a verdade derivada meramente através das especulações teológicas ou baseada na autoridade de escrituras religiosas isoladas da consideração científica. Por exemplo, os achados dos psicólogos modernos indicam que a mente humana, como o corpo físico, trabalha de acordo com leis naturais e causais sem a presença de uma alma imutável tal como ensinado por algumas religiões.

Alguns religiosos escolhem desconsiderar as descobertas científicas que entram em conflito com seus dogmas religiosos. Tais rígidos hábitos mentais são de fato um obstáculo ao progresso humano. Uma vez que o homem moderno se recusa a acreditar em qualquer coisa cegamente, mesmo que tenha sido tradicionalmente aceito, tais religiosos, com suas teorias defeituosas, somente terão êxito em aumentar o grupo dos não-crentes.

Por outro lado, alguns religiosos sentem a necessidade de se acomodar a teorias científicas popularmente aceitas dando uma nova interpretação aos seus dogmas religiosos. Um tal caso pode ser visto na teoria da evolução de Darwin. Muitos religiosos mantêm que o homem foi diretamente criado por Deus. Darwin, por outro lado, proclama que o homem evoluiu do macaco, uma teoria que perturba a doutrina da criação divina e da queda do homem. Desde que todos os pensadores brilhantes aceitaram a teoria de Darwin, os teólogos de hoje têm pouca escolha exceto dar uma nova interpretação para suas doutrinas a fim de se ajustarem a essa teoria a qual se opuseram por tanto tempo.

À luz das descobertas científicas modernas, não é difícil entender que muitas das visões sustentadas em muitas religiões com relação ao universo e à vida são meramente pensamentos convencionais há muito superados. É geralmente verdade dizer que as religiões em muito contribuíram para o desenvolvimento e o progresso humanos. Elas estabeleceram valores e padrões, bem como formularam princípios para guiar a vida humana. Mas por todo o bem que fizeram, as religiões não podem mais sobreviver na era científica moderna se os seguidores insistirem em aprisionar a verdade em fórmulas e dogmas estabelecidos, encorajando cerimônias e práticas que foram destituídas de seu significado original.

Buddhismo e Ciência

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Até o início do último século, o Buddhismo estava confinado aos países intocados pela ciência moderna. Ainda assim, desde o começo, os Ensinamentos do Buddha sempre estiveram abertos ao pensamento científico.

Uma razão porque o Ensinamento pode facilmente ser abraçado pelo espírito científico é que o Buddha nunca encorajou a crença rígida e dogmática. Ele não declarou que baseou Seus Ensinamentos na fé, crença ou revelação divina, mas permitiu uma grande flexibilidade e liberdade de pensamento.

A segunda razão é que o espírito científico pode ser encontrado na abordagem do Buddha quanto a Verdade espiritual. O método do Buddha para descobrir e testar a Verdade espiritual é muito similar àquela do cientista. Um cientista observa o mundo externo objetivamente, e somente estabelecerá uma teoria científica após conduzir muitos experimentos práticos de forma bem sucedida.

Usando uma abordagem similar vinte e cinco séculos atrás, o Buddha observou o mundo interior de forma desapegada, e encorajou Seus discípulos a não aceitar qualquer ensinamento até que tivessem investigado criticamente e de forma pessoal verificado sua veracidade. Como o cientista moderno que não declara que seu experimento não pode ser duplicado pelos outros, o Buddha não afirmava que Sua experiência de Iluminação era exclusividade Dele. Assim, em Sua abordagem em relação à Verdade, o Buddha foi tão analítico quanto os cientistas dos dias atuais. Ele estabeleceu um método prático e cientificamente elaborado para alcançar a Verdade Última e a experiência da Iluminação.

Enquanto o Buddhismo está muito alinhado com o espírito científico, não é correto equiparar o Buddhismo com a ciência. É verdade que as aplicações práticas da ciência permitiram a humanidade viver uma vida mais confortável e experimentar coisas maravilhosas não sonhadas anteriormente. A ciência tornou possível ao homem nadar melhor que os peixes, voar mais alto que os pássaros, e andar na lua. Porém, a esfera de conhecimento aceitável para a sabedoria científica e convencional está confinada à evidência empírica. E a verdade científica está sujeita à mudança constante. A ciência não pode dar ao homem o controle sobre sua mente e nem oferece o controle e a orientação moral. Apesar de suas maravilhas, a ciência tem de fato muitas limitações que não são compartilhadas pelo Buddhismo.

Limitações da Ciência

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Ouve-se muito sobre a ciência e o que ela pode fazer; enquanto que muito pouco sobre o que não pode fazer. O conhecimento científico é limitado aos dados recebidos através dos órgãos dos sentidos. Ele não reconhece a realidade que transcende os dados dos sentidos. A verdade científica é construída a partir de observações lógicas dos dados dos sentidos, os quais mudam continuamente. A verdade científica é, portanto, uma verdade relativa, que não pretende passar no teste do tempo. E um cientista, consciente desse fato, está sempre disposto a descartar uma teoria se ela puder ser substituída por uma melhor.

A ciência se esforça para compreender o mundo exterior e arranhou muito de leve a superfície do mundo interior do homem. Mesmo a ciência da psicologia realmente não se aprofundou na causa subjacente da inquietude mental do homem. Quando um homem está frustrado e desgostoso com a vida, e seu mundo interior se enche de perturbações e inquietudes, a ciência de hoje está muito pouco equipada para ajudá-lo. As ciências sociais que se ocupam do ambiente humano podem trazer um certo nível de felicidade a ele. Mas, diferentemente de um animal, o homem requer mais do que mero conforto físico e precisa de ajuda para lidar com as frustrações e misérias que surgem de suas experiências diárias.

Hoje tantas pessoas são massacradas por medo, inquietação e insegurança. Ainda assim, a ciência fracassa em socorrê-las. A ciência é incapaz de ensinar ao homem comum como controlar sua mente quando dominado pela natureza animal que queima no seu interior.

A ciência pode tornar o homem melhor? Se pode, por que então os atos violentos e as práticas imorais abundam nos países que estão tão adiantados na ciência? Não é justo dizer que, apesar de todo progresso científico adquirido e as vantagens conferidas ao homem, a ciência deixa o homem interior basicamente imutável: apenas elevando os sentimentos de dependência e insuficiência do homem? Além desse fracasso em levar segurança para a humanidade, a ciência faz também todos se sentirem ainda mais inseguros pela ameaça ao mundo com a possibilidade da destruição total.

A ciência é incapaz de prover um propósito significativo para a vida. Ela não pode dar ao homem razões claras para a sua vida. De fato, a ciência é completamente secular em sua natureza e não se ocupa do objetivo espiritual do homem. O materialismo inerente ao pensamento científico nega à psiquê objetivos que ultrapassam a satisfação material. Por suas teorizações seletivas e verdades relativas, a ciência despreza alguns dos temas mais essenciais e deixa muitas questões sem resposta. Por exemplo, quando perguntada sobre o porquê das grandes desigualdades existentes entre os homens, nenhum explicação científica pode ser dada para tais questões que estão além de seus confins estreitos.

Ignorância Culta

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A mente transcendental desenvolvida pelo Buddha não é limitada às informações dos sentidos e vai além da lógica presa na limitação da percepção relativa. O intelecto humano, ao contrário, opera com base na informação que coleta e armazena, seja no campo da religião, filosofia, ciência ou arte. A informação para a mente é reunida por nossos órgãos sensoriais, os quais são inferiores de tantas maneiras. A informação limitada recebida torna nossa compreensão do mundo distorcida.

Algumas pessoas são orgulhosas pelo fato de saberem tanto. De fato, quanto menos sabemos, mais certos nos tornamos de nossas explicações; quanto mais sabemos, mais percebemos nossas limitações.

Certa vez, um brilhante acadêmico escreveu um livro que tomou como sendo sua obra derradeira. Acreditou que o livro continha todas as jóias literárias e filosóficas. Orgulhoso por sua conquista, ele mostrou sua obra-prima a um colega, que era igualmente brilhante, com o pedido de que o comentasse. Ao invés disso, seu colega pediu ao autor que escrevesse num pedaço de papel tudo o que ele sabia e tudo o que não sabia. O autor se sentou muito pensativo, mas depois de um tempo não conseguiu escrever nada que soubesse. Lançou sua mente, então, para a segunda questão, e, novamente, fracassou em escrever qualquer coisa que não soubesse. Finalmente, com seu ego no nível mais baixo, ele desistiu, compreendendo que tudo o que sabia era realmente a ignorância.

A esse respeito, Sócrates, o bem conhecido filósofo ateniense do mundo antigo, disse o seguinte quando perguntado sobre o que sabia: ‘Sei apenas uma coisa – que eu não sei’.

Para Além da Ciência

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O Buddhismo ultrapassa a ciência moderna em sua aceitação de um campo mais abrangente de conhecimento do que é permitido pela mente científica. O Buddhismo admite o conhecimento que surge dos órgãos dos sentidos tanto quanto aquele proveniente da experiência pessoal ganho através da cultura mental. Pelo treinamento e desenvolvimento de uma mente muito concentrada, a experiência religiosa pode ser compreendida e verificada. A experiência religiosa não é algo que possa ser entendida conduzindo experimentos num tubo de laboratório ou examinada sob um microscópio.

A verdade descoberta pela ciência é relativa e sujeita a mudanças, enquanto aquela encontrada pelo Buddha é final e absoluta: a Verdade do Dhamma não muda de acordo com tempo e espaço. Além disso, ao contrário da teorização seletiva da ciência, o Buddha encorajou o sábio a não se apegar a teorias, científicas ou outras. Ao invés de teorizar o Buddha ensinou a humanidade sobre como viver uma vida correta a fim de descobrir as Verdades Últimas. Por viver uma vida justa, acalmando os sentidos e abandonando os desejos, o Buddha indicou o caminho pelo qual podemos descobrir dentro de nós mesmos a natureza da vida. E o propósito real da vida pode ser encontrado.

A prática é importante no Buddhismo. Uma pessoa que estuda muito mas não pratica é como alguém capaz de recitar receitas de um grande livro de culinária sem tentar preparar um único prato. Sua fome não pode ser aliviada somente pelo conhecimento do livro. A prática é um pré-requisito tão importante da iluminação que em algumas escolas do Buddhismo, como o Zen, a prática é colocada até mesmo na frente do conhecimento.

O método cientifico é dirigido para fora, e os cientistas modernos exploram a natureza e os elementos para seu próprio conforto, freqüentemente desconsiderando a necessidade de se harmonizar com o ambiente, tendo como conseqüência a poluição do mundo. Ao contrário, o Buddhismo é voltado para dentro e se preocupa com o desenvolvimento interno do homem. No nível mais básico, o Buddhismo ensina o individuo como se ajustar e lidar com os eventos e circunstâncias da vida diária. No nível mais alto, ele representa a pujança humana em crescer para além de si mesmo através da prática da cultura mental ou do desenvolvimento da mente.

O Buddhismo tem um completo sistema de cultura mental dirigido à conquista do insight em relação à natureza das coisas o qual leva à completa autorealização da Verdade Última – Nibbāna. Esse sistema é tanto prático quanto científico; ele envolve uma observação desapaixonada dos estados emocionais e mentais. Mais como um cientista do que como um juiz, um meditante observa o mundo interior com vigilância.

Ciência Sem Religião

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Não tendo ideais morais, a ciência significa um perigo a toda a humanidade. A ciência criou a máquina que por sua vez se tornou rainha. A bala e a bomba são presentes da ciência para os poucos no poder do quais depende o destino do mundo. Enquanto isso, o resto da humanidade espera em angústia e medo, sem saber quando as armas nucleares, os gases venenosos, as armas mortíferas – todos eles frutos das pesquisas científicas e planejados para matar eficientemente – serão usados contra eles. Não somente a ciência é completamente incapaz de prover uma orientação moral para a humanidade, ela também provê o combustível para a chama da cobiça humana.

A ciência desprovida de moralidade conjura apenas destruição: ela se torna o monstro draconiano descoberto pelo homem. E, infelizmente, esse monstro está se tornando mais poderoso que o próprio homem. A menos que o homem aprenda a restringir e governar o monstro por meio da prática da moralidade religiosa, o monstro em breve irá superá-lo. Sem a orientação religiosa, a ciência ameaça o mundo com a destruição. Em contraste, a ciência, quando unida a uma religião como o Buddhismo, pode transformar esse mundo num paraíso de paz, segurança e felicidade.

Nunca houve um tempo onde a cooperação entre a ciência e a religião fosse tão desesperadamente necessária no melhor interesse e serviço da humanidade. A religião sem a ciência é aleijada, enquanto que a ciência sem a religião é cega.

Tributo ao Buddhismo

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A sabedoria do Buddhismo baseada na compaixão tem o papel vital de corrigir o destino perigoso para onde a ciência moderna está se dirigindo. O Buddhismo pode prover a liderança espiritual para guiar as pesquisas e invenções científicas na promoção de uma cultura brilhante no futuro. O Buddhismo pode promover objetivos valiosos para o avanço científico, o qual, atualmente, passa por um impasse desesperançado sendo escravizado por suas próprias invenções.

Albert Einstein prestou um tributo ao Buddhismo quando disse em sua autobiografia: ‘Se existe alguma religião que poderia igualar-se às necessidades científicas modernas, ela seria o Buddhismo’. O Buddhismo não necessita de revisão para se manter ‘atualizado’ com as descobertas científicas recentes. O Buddhismo não precisa abandonar suas visões por causa da ciência, pois não apenas abarca a ciência, mas vai além dela. O Buddhismo é a ponte entre o pensamento religioso e científico, pois estimula o homem a descobrir as potencialidades latentes dentro dele e em seu meio-ambiente. O Buddhismo é atemporal!

Religião da Liberdade

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Essa é uma religião de liberdade e razão feita para o homem levar uma vida nobre.

O Buddhismo não impede ninguém de aprender os ensinamentos de outras religiões. De fato, o Buddha encorajou Seus seguidores a aprender sobre outras religiões e comparar Seus Ensinamentos a outros ensinamentos. O Buddha disse que, se há ensinamentos razoáveis e racionais em outras religiões, Seus seguidores estão livres para respeitar tais ensinamentos. Parece que certos religiosos tentam manter seus seguidores na escuridão, algum deles não podendo nem mesmo tocar os objetos ou livros de outras religiões. Eles são instruídos a não ouvirem as pregações de outras religiões; e são instruídos a não duvidar dos ensinamentos de sua própria religião, por mais não convincentes tais ensinamentos pareçam ser. Quanto mais conseguem manter seus seguidores numa só trilha, mais facilmente os mantêm sob controle. Se qualquer um deles exercita a liberdade de pensamento e percebe que tem estado na escuridão todo o tempo, então é dito que o demônio possuiu sua mente. Ao pobre homem não é dada nenhuma oportunidade para usar seu senso comum, educação ou inteligência. Aqueles que desejam mudar seu ponto de vista sobre a religião são ensinados a acreditar que não são perfeitos o suficiente para serem permitidos usar o livre-arbítrio e julgar qualquer coisa por eles mesmos.

De acordo com o Buddha, a religião deveria ser algo da própria livre escolha. Religião não é uma lei, mas um código de disciplina que deveria ser seguido com compreensão. Para os buddhistas, os verdadeiros princípios religiosos não são nem uma lei divina nem uma lei humana, mas uma lei natural.

A verdade é que não há nenhuma liberdade religiosa real em nenhuma parte do mundo hoje. O homem não tem a liberdade até de pensar livremente. Sempre que percebe que não pode encontrar satisfação através de sua própria religião, a qual não pode lhe conceder respostas satisfatórias a certas questões, ele não tem liberdade para desistir dela e aceitar uma outra que o atraia. A razão é que as autoridades religiosas, líderes e membros da família tiraram sua liberdade. Ao homem deveria ser permitido escolher a religião que está de acordo com sua própria convicção. Ninguém tem o direito de forçar o outro a aceitar uma religião em particular. Algumas pessoas abandonam sua religião pelo amor, sem uma compreensão correta da religião de seu parceiro. A religião não deveria ser mudada para adaptar-se às emoções do homem e às fraquezas humanas. Uma pessoa deve pensar muito cuidadosamente antes de mudar de religião. A religião não é um objeto de barganha; não se deveria mudar de religião a fim de ganhos pessoais ou materiais. A religião é para ser usada para o desenvolvimento espiritual e para a salvação de si mesmo.

Os buddhistas nunca tentam influenciar outras pessoas religiosas a se aproximarem e abraçarem sua religião para obter ganhos materiais. Nem buscam explorar pobreza, doença, analfabetismo e ignorância a fim de aumentar o número da população buddhista. O Buddha aconselhou aqueles que indicavam sua vontade em segui-Lo, a não aceitarem precipitadamente Seus Ensinamentos. Aconselhou-os a considerar cuidadosamente Seu Ensinamento e então decidir se era algo prático para eles seguirem ou não.

O Buddhismo ensina que uma mera crença nos rituais externos são insuficientes para atingir a sabedoria e a perfeição. Nesse sentido, a conversão externa se torna sem sentido. Promover o Buddhismo pela força significaria pretender propagar a justiça e o amor pelos meios da opressão e da injustiça. Não é de importância para um seguidor de Buddha se uma pessoa se chama de buddhista ou não. Os buddhistas sabem que somente através do próprio entendimento e esforço o homem estará perto do objetivo pregado pelo Buddha.

Entre os seguidores de todas as religiões encontramos alguns fanáticos. O fanatismo religioso é perigoso. Um fanático é incapaz de se guiar pela razão ou mesmo pelos princípios científicos da observação e da análise. De acordo com o Buddha, um buddhista precisa ser um homem livre com uma mente aberta, e não ser subserviente a ninguém para o seu desenvolvimento espiritual. Ele busca refúgio no Buddha aceitando-O como uma fonte de orientação e inspiração suprema. Ele busca refúgio no Buddha, não cegamente, mas com compreensão. Para os buddhistas, o Buddha não é um salvador nem é um ser antropomórfico que proclama possuir o poder de limpar os pecados dos outros. Os buddhistas consideram o Buddha como um Professor que mostra o Caminho para a salvação.

O Buddhismo sempre ajudou na liberdade e no progresso da humanidade. O Buddhismo sempre defendeu os avanços no conhecimento e pela liberdade da humanidade em todas as esferas da vida. Não há nada nos Ensinamentos do Buddha que tenha de ser retirado em face das invenções e conhecimentos científicos modernos. Quanto mais coisas novas são descobertas pelos cientistas, mais perto estão do Buddha.

O Buddha emancipou o homem da escravidão da religião. Libertou também o homem do monopólio e da tirania dos sacerdotes. Foi o Buddha quem primeiro aconselhou o homem a exercitar sua razão e a não se permitir ser guiado mansamente como um estúpido gado, seguindo o dogma da religião. O Buddha defendeu o racionalismo, a democracia e a conduta prática e ética na religião. Introduziu esta religião para que as pessoas praticassem com dignidade humana.

Os seguidores do Buddha foram aconselhados a não acreditarem em qualquer coisa sem considerá-la apropriadamente. No Kalama Sutta, o Buddha deu as seguintes orientações para um grupo de jovens:

Não aceitem nada baseados meramente em relatos,
tradições ou ditos,
Nem com base na autoridade de textos religiosos,
Nem com base em mera razão e argumentos,
Nem com base na própria inferência,
Nem em nada que pareça ser verdade,
Nem com base em sua própria opinião especulativa,
Nem com base na aparente habilidade de alguém,
Nem com base na consideração: “Esse é nosso Mestre”.

‘Mas, quando souberem por vocês mesmos que certas coisas são insalubres e ruins: tendentes a prejudicarem vocês ou outros, rejeitem-nas.
‘E quando souberem por vocês mesmos que certas coisas são saudáveis e boas: condutivas ao bem-estar espiritual de vocês bem como de outros, aceitem-nas e sigam-nas
”.

Os buddhistas são aconselhados a aceitarem práticas religiosas somente após observação e análise cuidadosas, e somente após estarem certos de que o método concorda com a razão e é condutivo ao bem próprio e de todos.

Um verdadeiro buddhista não depende de forças externas para sua salvação. Nem espera se livrar das misérias por meio da intervenção de algum poder desconhecido. Ele deve tentar erradicar todas as suas impurezas mentais a fim de encontrar a eterna Felicidade. O Buddha disse: “Se alguém falasse mal de mim, de meus ensinamentos e de meus discípulos, vocês não deveriam se preocupar ou se perturbar, porque esse tipo de reação somente causaria prejuízo a vocês. Por outro lado, se alguém falasse bem de mim, de meus ensinamentos e de meus discípulos, não deveriam se entusiasmar, nem se exultar ou se alegrar em demasia, porque esse tipo de reação somente seria um obstáculo na formação de um julgamento correto. Se ficarem exultantes, não poderão julgar quais as qualidades elogiadas são reais e realmente encontradas em você” (Brahma Jala Sutta). Tal é a atitude equilibrada de um buddhista genuíno.

O Buddha defendeu o mais alto grau de liberdade não somente em sua essência humana, mas também em suas qualidades divinas. É uma liberdade que não priva o homem de sua dignidade. É uma liberdade que emancipa de toda escravidão a dogmas, leis religiosas ditatoriais e punições religiosas.

Missionários Buddhistas

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“Vão em frente, ó Bhikkhus, para o benefício de muitos, para a felicidade de muitos, devido à compaixão pelo mundo, para o bem, benefício e felicidade dos deuses e homens” (O Buddha).

Quando viramos as páginas da história do Buddhismo, aprendemos que os missionários buddhistas ensinaram a nobre mensagem do Buddha de uma forma pacífica e respeitável. Tal pacífica missão deveria causar vergonha naqueles que usam de métodos violentos para propagar sua religião.

Os missionários buddhistas não competem com outros religiosos em converter as pessoas no mercado espiritual. Nenhum missionário buddhista ou monge nem mesmo chegará a pensar em pregar a má-vontade contra os assim chamados ‘não-crentes’. A intolerância religiosa, cultural e nacionalista não é uma atitude buddhista para aquelas pessoas imbuídas de um real espírito buddhista. A agressão nunca encontra aprovação nos ensinamentos do Buddha. O mundo sangrou e sofreu o suficiente com a doença do dogmatismo, do fanatismo religioso e da intolerância. Seja na religião ou na política, as pessoas fazem um esforço consciente para trazer a humanidade à aceitação de suas próprias maneiras de vida. Ao fazer isso, elas, por vezes, mostram sua hostilidade a seguidores de outras religiões.

O Buddhismo não briga com as tradições nacionais, os costumes, a arte e a cultura das pessoas que o aceitam como um modo de vida, mas permite que existam com um refinamento. A mensagem do Buddha de amor e compaixão abriu os corações dos homens; e eles, de boa vontade, aceitaram os Ensinamentos, ajudando, assim, o Buddhismo a se tornar uma religião mundial. Missionários buddhistas foram convidados por países independentes, os quais dão as boas-vindas com o devido respeito. O Buddhismo nunca foi introduzido em nenhum país através da influência colonizadora ou de qualquer poder político.

O Buddhismo foi a primeira força espiritual conhecida por nós na história que juntou um grande número de raças que estiveram separadas pelas mais difíceis barreiras de distância, linguagem, cultura e moral. Seu motivo não foi a aquisição de comércio internacional, a construção de impérios ou o impulso migratório para ocupar um novo território. Seu objetivo foi o de mostrar como as pessoas poderiam obter mais paz e felicidade através da prática do Dhamma.

Um brilhante exemplo das qualidades e abordagem de um missionário buddhista foi o Imperador Asoka. Foi durante o tempo do Imperador Asoka que o Buddhismo se espalhou para muitos países asiáticos e ocidentais. O Imperador Asoka enviou missionários buddhistas para muitas partes do mundo para introduzir a mensagem e paz vinda do Buddha. Asoka respeitou e ajudou cada religião de sua época. Sua tolerância em relação a outras religiões foi notável. Em um de seus escritos gravados em pedra num dos Pilares de Asoka, que permanecem em pé, ainda hoje na Índia, é dito:

Não se deve homenagear somente sua própria religião e condenar a religião dos outros, mas se deve homenagear a religião dos outros por essa ou por aquela razão. Assim fazendo, uma pessoa ajuda a própria religião a crescer e presta um serviço também à religião dos outros. Agindo de maneira diferente, a pessoa cava o túmulo de sua própria religião e também prejudica a religião do outro. Quem quer que homenageie sua própria religião e condena a religião dos outros, ele, realmente, através da devoção a sua própria religião, assim o faz devido à devoção por sua própria religião, pensando: “Glorificarei minha própria religião”. Mas, pelo contrário, fazendo isso ele injuria sua própria religião mais gravemente, pois a concórdia é algo bom. Que todos possam ouvir e estejam dispostos a ouvir as doutrinas professadas pelos outros”.

Em 284 a.C. ele tornou a doutrina do Buddha uma força viva na Índia. Hospitais, instituições de serviço social, universidades para homens e mulheres, poços públicos e centros de recreação se espalharam através desse novo movimento, e as pessoas assim puderam perceber a crueldade das guerras sem sentido.

A era de ouro na história da Índia e de outros paises da Ásia – o período quando arte, cultura, educação e civilização atingiram seu zenith – ocorreu na época em que a influência buddhista reinava forte nesses paises. Guerras santas, cruzadas, inquisições e discriminação religiosa não mancham os anais dos países buddhistas. Essa é uma história nobre da humanidade da qual ela pode se orgulhar. A Grande Universidade de Nalanda na Índia, a qual floresceu do segundo ao nono século, foi um produto do Buddhismo. Foi a primeira universidade da qual tivemos notícia, e que esteve aberta a estudantes internacionais.

No passado, o Buddhismo foi capaz de fazer-se sentir em muitas partes do Oriente, embora a comunicação e o transporte fosse difíceis e as pessoas tivessem de cruzar montanhas e desertos. Apesar dessas difíceis barreiras o Buddhismo se espalhou para longe e de forma abrangente. Hoje, essa mensagem de paz está se espalhando no ocidente. Ocidentais sentem-se atraídos pelo Buddhismo e acreditam que o Buddhismo é a única religião que está em harmonia com a ciência moderna.

Os missionários buddhistas não têm necessidade ou desejo em converter aqueles que ainda têm uma religião adequada para praticar. Se as pessoas estão satisfeitas com sua própria religião, então, não há necessidade para os missionários buddhistas convertê-las. Eles dão total cooperação aos missionários de outras fés se suas idéias são as de converter o povo malvado, mau e sem cultura na direção de uma vida religiosa. Os buddhistas ficam felizes em ver o progresso de outras religiões desde que elas realmente ajudem as pessoas a levar uma vida religiosa de acordo com sua fé, desfrutando de paz, harmonia e compreensão. Por outro lado, os missionários buddhistas deploram a atitude de certos missionários que perturbam os seguidores de outras religiões, pois que não há razão para criarem uma atmosfera insalubre de competição para converter se seu objetivo for somente ensinar as pessoas a levar uma vida religiosa.

Ao introduzir o Dhamma a outros, os missionários buddhistas nunca tentaram usar exageros imaginários para descrever uma vida celestial a fim de atrair o desejo humano e estimular sua cobiça. Ao invés, eles tentaram explicar a real natureza humana e a vida celestial tal como ensinadas pelo Buddha.