Capítulo 11

Tradições, Costumes e Festivais

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O Buddhismo está aberto para as tradições e costumes
quando estes não sejam prejudiciais ao bem estar das pessoas

O Buddha nos advertiu a não acreditar em nada simplesmente porque é um costume tradicional. Entretanto, não fomos aconselhados a nos livrar repentinamente de todas as tradições. “Você deve tentar experimentá-las e colocá-las à prova. Se forem razoáveis e condutivas tanto a sua felicidade quanto ao bem-estar dos outros, somente então deveria aceitar e praticar estas tradições e costumes (Kālama Sutta)”. Esta certamente é uma das declarações mais liberais já feitas por qualquer mestre religioso. Tal tolerância em relação às tradições e costumes dos outros não é algo conhecido por alguns religiosos. Estes usualmente aconselham seus novos convertidos a desistirem de todas as tradições, costumes e cultura sem observar se eles são bons ou maus. Quando pregam o Dhamma, os missionários buddhistas nunca aconselharam as pessoas a desistirem de suas tradições tanto quanto elas sejam razoáveis. Mas os costumes e tradições devem se manter dentro dos limites de princípios religiosos. Em outras palavras, não se deve violar os preceitos religiosos a fim de seguir suas tradições. Se o povo está muito voltado a seguir tradições que não têm qualquer valor religioso, ele pode fazê-lo, tanto quanto não pratique estas tradições em nome da religião. Mesmo assim, tais práticas devem ser inofensivas para si mesmo e para todas as outras criaturas vivas.

Ritos e rituais

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Estes estão incluídos nos costumes e tradições. Os ritos e rituais são um ornamento ou uma decoração que almejam embelezar uma religião a fim de atrair o público. Eles provêem uma ajuda psicológica para algumas pessoas. Mas é possível praticar a religião sem quaisquer ritos ou rituais. Certos ritos e rituais que as pessoas consideram como sendo o mais importante aspecto de sua religião em termos de sua salvação não são considerados assim no Buddhismo. De acordo com o Buddha, não devemos nos apegar a tais práticas para nosso desenvolvimento espiritual ou purificação mental.

Festivais

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Buddhistas genuínos e sinceros não celebram festivais buddhistas desfrutando-os sob a influência do álcool ou de festas com matança de animais. Os verdadeiros buddhistas observam os dias de festas de uma forma inteiramente diferente. Naquele dia em particular, eles dedicam seu tempo em se abster de todo o mal. Praticam a caridade e ajudam os outros a se libertarem de seu sofrimento. Eles podem se divertir com os amigos e parentes de uma forma respeitável.

Os festivais que foram incorporadas à religião podem, algumas vezes, poluir a pureza da religião. Por outro lado, uma religião sem festivais pode ser tornar maçante e sem vida para muitas pessoas. Usualmente, crianças e jovens se aproximam da religião por meio dos festivais religiosos. Para eles, a atração de uma religião está baseada nesses festivais. Entretanto, para um meditante, festivais podem ser um transtorno.

Claro, algumas pessoas não ficarão satisfeitas com as observâncias religiosas somente durante um festival. Naturalmente elas gostam de participar de algum tipo de festa divertida e de shows ao ar livre. Ritos, rituais, cerimônias, procissões e festivais são organizados a fim de saciar a sede por satisfação emocional através da religião. Ninguém pode dizer que tais práticas estão erradas, mas os devotos devem organizar tais cerimônias de uma maneira educada, sem causar incômodo para os outros.

Buddhismo e Mulheres

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Uma criança do sexo feminino pode mesmo ser um fruto melhor do que um homem

A posição das mulheres no Buddhismo é única. O Buddha deu às mulheres uma total liberdade para participarem de uma vida religiosa. O Buddha foi o primeiro professor religioso a dar essa liberdade religiosa às mulheres. Antes do Buddha, os deveres das mulheres eram restritos à cozinha; não se permitia que nem entrassem em algum templo ou recitassem qualquer escritura religiosa. Durante o tempo do Buddha a posição das mulheres na sociedade era muito baixa. O Buddha foi criticado pela sociedade estabelecida por dar essa liberdade às mulheres. Sua ação em permitir as mulheres de entrar na Santa Ordem foi extremamente radical para aquela época. Mesmo assim, o Buddha permitiu às mulheres demonstrarem que elas também tinham a mesma capacidade dos homens para atingir a mais alta posição na vida religiosa atingindo o Estado de Arahant. Toda mulher no mundo deve ser grata ao Buddha por mostrar a elas a verdadeira vida religiosa e por dar tal liberdade para elas pela primeira vez na história mundial.

Uma boa ilustração da atitude prevalecente em relação às mulheres durante a época do Buddha é encontrada nessas palavras de Māra:

Nenhuma mulher, com os dois dedos de sabedoria que possui (ou seja, muito pouca), pode ter qualquer esperança de alcançar aquelas alturas atingidas somente pelos sábios”.

Indubitavelmente, o Buddha foi veemente em contradizer tais atitudes. A monja (bikkhunī) para quem Māra dirigiu essas palavras, deu a seguinte resposta:

Quando a mente de alguém é bem concentrada e a sabedoria nunca falha, o fato de ser uma mulher faz qualquer diferença?

O rei de Kosala ficou muito desapontado quando soube que sua rainha havia dado a luz a uma menina. Ele esperava um menino. Para consolar o triste rei, o Buddha disse:

Uma criança do sexo feminino, ó Senhor dos homens, pode
Mesmo ser um fruto melhor do que um homem.
Pois ela pode crescer sábia e virtuosa,
Reverente à mãe de seu marido, verdadeira esposa,
E o filho que gerar pode fazer grandes obras,
E reger grandes reinos, sim, tal filho
De uma nobre mulher torna-se o guia da nação
”.
(Samyutta Nikāya)

O Buddha confirmou que o homem não é sempre o único a ser sábio; as mulheres também são sábias.

Atualmente, muitos religiosos gostam de proclamar que suas religiões dão direitos iguais às mulheres. Temos apenas que olhar o mundo ao nosso redor para ver a posição das mulheres em muitas sociedades. Parece que não têm direitos à propriedade, são discriminadas em vários campos e geralmente sofrem abuso em muitas formas sutis. Mesmo nos países ocidentais, mulheres como as Suffragettes tiveram que lutar muito por seus direitos. De acordo com o Buddhismo, não é justificável considerar as mulheres como inferiores. O próprio Buddha nasceu como mulher em várias ocasiões em Suas vidas prévias no Saṁsāra e mesmo como mulher Ele desenvolveu as qualidades nobres e a sabedoria até atingir a iluminação ou o Estado de Buddha.

Buddhismo e Política – 1

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O Buddha superou todos os afazeres mundanos,
mas ainda deu conselhos a respeito do bom governo

O Buddha nasceu em uma casta guerreira e cresceu, naturalmente, entre reis, príncipes e ministros. Apesar de Sua origem e relações, Ele nunca usou da influência do poder político para apresentar Seu ensinamento, nem permitiu Seu Ensinamento ser mal empregado para a obtenção de poder político. Mas, hoje, muitos políticos tentam arrastar o nome do Buddha para a política, apresentando-O como comunista, capitalista ou mesmo imperialista. Eles se esqueceram de que a nova filosofia política, tal como a conhecemos, realmente surgiu no Ocidente muito depois da época do Buddha. Aqueles que tentam usar o bom nome do Buddha para seu próprio proveito pessoal devem se lembrar de que o Buddha foi O Supremo Iluminado que superou todas as preocupações mundanas.

Há um problema inerente no tentar misturar religião com política. A base da religião é moralidade, pureza e fé, enquanto que a política se baseia no poder. No curso da história, a religião freqüentemente foi usada para legitimar aqueles no poder e seu exercício de tal poder. A religião foi usada para justificar guerras e conquistas, perseguições, atrocidades, rebeliões, destruição de obras artísticas e culturais.

Quando a religião é usada como serviçal dos caprichos políticos, ela abandona seus ideais morais mais altos e se torna manchada pelas demandas políticas mundanas.

A confiança do Buddha Dhamma não é dirigida para a criação de novas instituições políticas ou no estabelecimento de acordos políticos. Basicamente, ele busca abordar os problemas da sociedade por meio da reforma dos indivíduos que constituem tal sociedade, sugerindo alguns princípios gerais por meio dos quais a sociedade possa ser guiada a um humanismo mais abrangente, melhorando o bem-estar de seus membros e propiciando uma maior distribuição igualitária dos recursos.

Buddhismo e Política – 2

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Há um limite para o quanto um sistema político seja capaz de assegurar a felicidade e a prosperidade de seu povo. Nenhum sistema político, não importando o quanto ideal ele possa parecer, pode trazer paz e felicidade se as pessoas no sistema estiverem dominadas pela cobiça, ódio e ilusão. Além disso, não importando qual o sistema político adotado, há certos fatores universais que os membros dessa sociedade deverá experimentar: o efeito do bom e do mau kamma, a falta da real satisfação ou felicidade duradoura num mundo caracterizado por dukkha (insatisfatoriedade), anicca (impermanência) e anatta (ausência de um eu). Para o buddhista, em nenhum lugar do Saṁsāra há a verdadeira liberdade, nem mesmo nos céus ou no mundo dos Brahmās.

Embora um sistema político bom e justo, que garanta os direitos humanos básicos e contenha ferramentas de checagem e equilíbrio do uso do poder, seja uma importante condição para uma vida feliz na sociedade, as pessoas não deveriam desperdiçar seu tempo na busca sem fim por um sistema político derradeiro onde os homens possam ser completamente livres; pois a completa liberdade não pode ser encontrada em qualquer sistema, mas somente nas mentes que são livres. Para ser livre, um povo terá que buscar em sua própria mente e trabalhar para se tornar livre das correntes da ignorância e do desejo sedento. A liberdade no sentido mais verdadeiro somente é possível quando uma pessoa usa o Dhamma para desenvolver seu caráter por meio da fala correta e da ação correta, bem como para treinar sua mente a fim de expandir seu potencial mental e conquistar seu objetivo derradeiro, a iluminação.

Reconhecemos a utilidade da separação entre a religião e a política, e a limitação dos sistemas políticos no sentido de trazer paz e felicidade, entretanto há diversos aspectos nos ensinamentos do Buddha que têm correspondência próxima com a situação política atual. Primeiramente, o Buddha falou sobre a igualdade entre todos os seres humanos muito antes de Abraham Lincoln, bem como sobre as classes e castas como barreiras artificiais levantadas pela sociedade. A única classificação dos seres humanos, de acordo com o Buddha, é baseada na qualidade de sua conduta moral. Em segundo lugar, o Buddha encorajou o espírito da cooperação social e da participação ativa na sociedade. Este espírito é ativamente promovido no processo político das sociedades modernas. Terceiro, desde que ninguém foi apontado como sucessor do Buddha, os membros da Ordem devem ser guiados pelo Dhamma e pelo Vinaya ou, em outras palavras, pela Regra da Lei. Até hoje, cada membro da Sangha submete-se à Regra da Lei que governa e guia sua conduta.

Em quarto lugar, o Buddha encorajou o espírito da consulta e o processo democrático. Isso é mostrado na própria comunidade da Ordem, na qual todos os membros têm o direito de decidir sobre assuntos de interesse geral. Quando surge uma questão séria que demanda atenção, o assunto é colocado diante dos monges e discutido de uma maneira similar ao sistema democrático parlamentar usado hoje. Pode ser uma surpresa para muitos saber que os rudimentos da prática parlamentar dos dias atuais e que esse procedimento de auto-governo já estavam presentes nas assembléias dos buddhistas da Índia há 2500 anos. Havia mesmo um indivíduo cuja função designada era preservar a dignidade da assembléia. Um segundo indivíduo certificava-se de haver quorum. Os temas eram colocados na forma de uma moção, que então era aberta para discussão. Em alguns casos isso era feito uma vez, em outras três vezes, antecipando dessa forma a prática do Parlamento em requerer que um projeto fosse lido pela terceira vez antes de se tornar lei.

A abordagem buddhista com relação ao poder político é a moralização e o uso responsável do poder público. O Buddha pregou a não-violência e a paz como uma mensagem universal. Ele não aprovou a violência ou a destruição da vida, e declarou que não havia tais coisas como guerras ‘justas’. Ele ensinou: “O vencedor nutre o ódio, o derrotado vive na infelicidade. Aquele que renuncia tanto a vitória quanto a derrota é feliz e pacífico”. O Buddha não somente ensinou a não-violência e a paz, mas talvez tenha sido o primeiro e único mestre religioso a ir pessoalmente num campo de batalha a fim de impedir a erupção de uma guerra. Ele dispersou a tensão entre os Sakyas e os Koliyas que estavam prestes a travar uma guerra com relação às águas do rio Rohini. Ele também dissuadiu o rei Ajatasattu de atacar o Reino dos Vajjis.

O Buddha discutiu a importância e os pré-requisitos de um bom governante. Ele mostrou como um país poderia se tornar corrupto, degenerado e infeliz quando o chefe de governo se torna corrupto e injusto. Ele falou contra a corrupção e como um governo deveria agir baseado em princípios humanitários.

O Buddha disse certa vez: “Quando o regente de um país é justo e bom, os ministros se tornam justos e bons; quando os ministros são justos e bons, os homens em cargos superiores se tornam justos e bons; quando os homens em cargos superiores são justos e bons, os subalternos se tornam justos e bons; quando os subalternos se tornam justos e bons, o povo se torna justo e bom” (Anguttara Nikāya).

No Cakkavatti Sihananda Sutta, o Buddha disse que a imoralidade e o crime, tais como roubo, mentira, violência, ódio e crueldade, podem surgir da pobreza. Reis e governantes podem tentar suprimir o crime através da punição, mas é inútil erradicar o crime através da força.

No Kutadanta Sutta, o Buddha sugeriu o desenvolvimento econômico ao invés da força como forma de reduzir o crime. O governo deveria usar os recursos do país para melhorar as condições econômicas do país. Deveria embarcar num desenvolvimento da agricultura e da área rural, provendo ajuda financeira aos empresários e comerciantes, provendo salários adequados para os trabalhadores manterem uma vida decente e com dignidade humana.

Buddhismo e Política – 3

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Nos Jātakas, o Buddha falou sobre 10 regras para o Bom Governo, conhecido como ‘Dasa Rāja Dharma’. Essas dez regras podem ser aplicadas mesmo hoje por qualquer governo que deseje governar o país pacificamente. As regras são as seguintes:

1. seja generoso e evite ser egoísta,
2. mantenha um alto padrão moral,
3. esteja preparado para sacrificar o próprio prazer para o bem-estar das pessoas,
4. seja honesto e mantenha absoluta integridade,
5. seja bondoso e gentil,
6. tenha uma vida simples que o povo possa imitar,
7. seja livre do ódio de qualquer tipo,
8. exercite a não-violência,
9. pratique a paciência, e
10. respeite a opinião pública a fim de promover a paz e a harmonia.

Ele também aconselhou quanto ao comportamento dos governantes:

(a) um bom governante deveria agir imparcialmente e não ser preconceituoso, discriminando entre um grupo particular de indivíduos e outro.
(b) um bom governante não deveria guardar em si nenhuma forma de ódio contra qualquer de seus governados.
(c) um bom governante não deveria mostrar nenhum medo na aplicação da lei, caso seja justificável.
(d) um bom governante deve possuir um claro entendimento da lei a ser aplicada. Esta não deve ser aplicada somente porque o governante tem a autoridade em fazê-lo. Ela deve ser cumprida de uma maneira racional e baseada no senso comum.
(Cakkavatti Sihananda Sutta)

É dito no Milinda Pañhā: “Se um homem, que não é preparado, é incompetente, imoral, impróprio, não adequado e indigno de ser rei, elegeu-se como um rei ou um governante com grande autoridade, ele se coloca na posição de ser torturado… a ser sujeito a uma variedade de punições provenientes do povo, porque, sendo inadequado e indigno, ele se coloca injustamente no assento do soberano. O governante, assim como outros que violam e transgridem os códigos morais e as regras básicas de todas as leis sociais da humanidade, é igualmente sujeito à punição; e, além disso, o governante que age como um ladrão do público deve ser censurado”. Em uma das histórias dos Jātakas é mencionado que um governante que pune pessoas inocentes e não pune quem é culpado, não é adequado para reger um país.

Buddhismo e Política – 4

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O rei sempre se aperfeiçoa e examina cuidadosamente sua própria conduta nas ações, palavras e pensamentos, tentando descobrir e ouvir a opinião do público, a fim de perceber se ele é culpado de quaisquer faltas e erros ao governar o reino. Se descobrir que rege de maneira injusta, o público reclamará que está sendo arruinado por um regente perverso por meio de tratamentos injustos, punição, taxação ou outras opressões incluindo a corrupção de qualquer tipo; e o público reagirá contra ele de uma forma ou outra. Ao contrário, se ele rege de forma justa, as pessoas o elogiarão assim: ´Vida longa a Sua Majestade’. (Majjhima Nikāya)

A ênfase dada pelo Buddha quanto ao dever moral de um regente em usar o poder público a fim de melhorar o bem-estar do povo inspirou o Imperador Asoka no terceiro século a.C. a fazer o mesmo. O Imperador Asoka, um exemplo brilhante desse princípio, resolveu viver de acordo com isso e pregar o Dhamma, servindo assim a seus súditos e a toda a humanidade. Ele declarou suas intenções não agressivas a seus vizinhos, assegurando-os de sua boa vontade e enviando mensageiros a reis distantes levando sua mensagem de paz e não-agressão. Promoveu a prática energética das virtudes sócio-morais da honestidade, sinceridade, compaixão, benevolência, não-violência, comportamento respeitoso a todos, não-extravagância, não-ganância, e não-injúria aos animais. Ele encorajou a liberdade religiosa e o respeito mútuo aos credos de cada um. Periodicamente fazia excursões de pregação do Dhamma na zona rural. Realizou obras de utilidade pública, tais como a criação de hospitais para homens e animais, abastecimento de remédios, plantação de árvores e parques ao longo das estradas, construção de poços, sistemas de drenagem e abrigos. Expressamente proibiu a crueldade para com os animais.

Por vezes se diz que o Buddha foi um reformador social. Entre outras coisas, Ele condenou o sistema de castas, reconheceu a igualdade entre as pessoas, falou sobre a necessidade de melhorar as condições sócio-econômicas, reconheceu a importância de uma distribuição de renda mais justa entre ricos e pobres, elevou o status das mulheres, recomendou a incorporação do humanismo no governo e na administração, e ensinou que uma sociedade não deve ser dirigida pela ganância, mas pelo respeito e compaixão pelo povo. Apesar disso, sua contribuição para a humanidade é muito maior pois ressaltou um ponto que nenhum outro reformador havia feito ou fez desde então, dirigindo-se às raízes mais profundas do mal-estar humano, que estão na mente do homem. Somente na mente humana a verdadeira reforma pode ser realizada. Reformas impostas pelo exercício da força sobre mundo externo têm uma vida muito curta pois não têm raízes. Mas aquelas reformas que surgem como resultado da transformação da consciência interna do homem permanecem enraizadas. Enquanto seus galhos se dirigem para fora, elas tiram seu alimento de uma fonte infalível – os imperativos subconscientes do próprio fluxo da vida. Assim, as reformas acontecem quando as mentes dos homens tiverem preparado o caminho para elas, e viverão enquanto os homens continuarem a revitalizá-las a partir de seu próprio amor à verdade, à justiça e por seus companheiros humanos.

Buddhismo e Política – 5

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A doutrina pregada pelo Buddha não é baseada em uma ‘Filosofia Política’. Nem é uma doutrina que encoraja os homens a prazeres mundanos. Ela pavimenta um caminho para o atingimento do Nibbāna. Em outras palavras, seu objetivo último é colocar um fim ao desejo sedento (taṇhā) que mantém o homem preso a este mundo. Um verso do Dhammapada melhor resume essa afirmação: “O caminho que leva ao ganho mundano é um, e o caminho que leva ao Nibbāna (ao viver uma vida religiosa) é outro”. Entretanto, isso não implica que o buddhista não possa ou não deva se envolver no processo político, o qual é uma realidade social. As vidas dos membros de uma sociedade são moldadas por leis e regulamentos, arranjos econômicos permitidos dentro de um país, arranjos institucionais os quais são influenciados por arranjos políticos daquela sociedade. Ainda assim, se um buddhista deseja estar envolvido na política, ele não deve usar a religião para obter poderes políticos, nem é recomendável para aqueles que renunciaram à vida mundana, a fim de levar uma vida pura e religiosa, que se envolvam ativamente na política.