Capítulo 03

O Buddha Existe Após Sua Morte?

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A pergunta: “O Buddha existe após Sua morte ou não” não é uma nova questão. Ela já havia sido feita ao Buddha.

Quando um grupo de ascetas fez a mesma pergunta a certos discípulos do Buddha, eles não conseguiram obter uma resposta satisfatória. Anuradha, um discípulo, se aproximou do Buddha e contou a Ele sobre a conversa. Considerando a capacidade de entendimento dos questionadores, o Buddha usualmente mantinha o silêncio para tais questões. Nessa ocasião, porém, o Buddha explicou a Anuradha da seguinte forma:

“Ó Anuradha, o que você pensa, a forma (rupa) é permanente ou impermanente?”
“Impermanente, Senhor”.
“O que é impermanente é doloroso ou prazeroso?”
“Doloroso, Senhor”.
“É apropriado considerar o que é impermanente, doloroso e sujeito à mudança como: ‘Isto é meu; isto sou eu, esta é minha alma ou substância permanente?”
“Não é apropriado, Senhor”.
“O sentimento é permanente ou impermanente?”
“Impermanente, Senhor”.
“O que é impermanente é doloroso ou agradável?”
“Doloroso, Senhor”.
“É apropriado considerar o que é impermanente, doloroso e sujeito à mudança como: ‘Isto é meu; isto sou eu, esta é minha alma?”
“Não é apropriado, Senhor”.
“São as percepções, tendências formativas e consciência, permanentes ou impermanentes?”
“Impermanentes, Senhor”.
“O que é impermanente é doloroso ou agradável?”
“Doloroso, Senhor”
“É apropriado considerar o que é impermanente, doloroso e sujeito à mudança como: ‘Isto é meu; isto sou eu, esta é minha alma?”
“Não é apropriado, Senhor”.
“Portanto, qualquer forma, sentimento, percepção, tendências formativas, consciência, que já existiram, existirão e que agora estão conectadas a si mesmo ou a outros, grosseiras ou sutis, inferiores ou superiores, longes ou perto; todas as formas, sentimentos, percepções, tendências formativas e consciência devem ser consideradas pelo conhecimento correto dessa forma: ‘Isto não é meu, isto não sou eu; esta não é minha alma’. Tendo visto assim, um discípulo nobre e instruído se desencanta com a forma, sentimento, percepção, tendências formativas e consciência. Se tornando desencantado, ele controla sua paixão e subsequentemente as descarta”.
“Estando livre da paixão, ele se emancipa e o insight surge nele: ‘Estou emancipado’. Ele compreende: ‘O nascimento foi destruído, vivo a vida santa e fiz o que tinha que ser feito. Não há mais nascimentos para mim”.
“O que você pensa, Anuradha, você considera a forma como um Tathagata?”
“Não, Senhor”.
“Ó Anuradha, qual é sua visão, você vê um Tathagata na forma?”
“Não, Senhor”.
“Você vê um Tathagata separado da forma?”
“Não, Senhor”.
“Você vê um Tathagata nos sentimentos, percepções, tendências formativas e consciência?”
“Não, Senhor”.
“Ó Anuradha, o que você pensa, você considera o que é sem forma, sentimento, percepção, tendências formativas e consciência como um Tathagata?”
“Não, Senhor”.
“Agora, Anuradha, uma vez que um Tathagata não é encontrado nessa própria vida (porque o corpo físico não é Tathagata), é apropriado para você dizer: ‘Este nobre e supremo indicou e explicou estas quatro proposições:
Um Tathagata existe após a morte;
Um Tathagata não existe após a morte;
Um Tathagata existe e ainda não existe após a morte;
Um Tathagata nem existe nem não existe após a morte?’”
“Não, Senhor”.
“Bem e certo, Anuradha. Antes e agora também Eu exponho e indico somente a verdade sobre o Sofrimento e a cessação do Sofrimento” (Anuradha Sutta – Samyutta Nikaya).

O diálogo acima entre o Buddha e Anuradha pode não satisfazer várias pessoas, uma vez que não satisfaz a mente inquiridora daqueles que buscam por respostas de um ponto de vista materialista. A Verdade Absoluta (o Dhamma) é tal que não dá satisfação para a emoção e para o intelecto. A Verdade acontece de ser a coisa mais difícil para as pessoas compreenderem. Ela apenas pode ser totalmente compreendida pelo Insight que transcende a lógica. O Estado de Buddha é a corporificação de todas as grandes virtudes e da suprema iluminação. Esse é o motivo porque o Buddhas que podem iluminar outros são muito raros nesse mundo.

Um Sucessor para o Buddha

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O Estado de Buddha é a maior das conquistas

Muitas pessoas perguntam o motivo de o Buddha não ter apontado um sucessor. Mas pode alguém apontar outro para tomar o lugar do Supremo Iluminado? Atingir o Estado de Buddha é a maior de todas as conquistas que somente alguém que atingiu a suprema sabedoria pode alcançar. Para atingir essa altíssima posição, alguém deve ser excelente em todas as qualificações, tais como autotreinamento, autodisciplina, base moral, supremo conhecimento e extraordinária compaixão em relação a todos os seres vivos. Portanto, uma pessoa deve fazer o esforço para se preparar de maneira a atingir o Estado de Buddha. Por exemplo, um médico não pode indicar nem mesmo seu próprio filho como médico, a menos que o filho tenha se qualificado por si mesmo para ser médico. Um advogado não pode apontar outra pessoa como advogada, a menos que ela obtenha as qualificações necessárias. Um cientista não pode apontar outra pessoa como cientista, a menos que ela possua o conhecimento de um cientista. Se o Buddha tivesse feito isso, o sucessor, desprovido das qualidades supremas do Estado de Buddha, teria usado mal Sua autoridade ou distorcido o ensinamento. De acordo com o Buddha, cada indivíduo deve desenvolver entendimento e insight por ele/ela mesmo, usando os Ensinamentos como guia (ehi passiko). Um ‘sucessor’ do Buddha teria apenas criado uma religião organizada ou uma igreja com dogmas, mandamentos e fé cega. Apenas temos que estudar a história do mundo para ver o tipo de abuso que pode ocorrer quando a autoridade é colocada nas mãos de pessoas espiritualmente pouco desenvolvidas. Portanto, o Buddha não indicou um sucessor.

A autoridade numa religião deve ser exercida por uma pessoa ou mais pessoas que possuam uma mente clara, entendimento apropriado, perfeição e cumprimento de uma vida santa. Autoridade não deveria ser exercida por pessoas com mentes mundanas que se tornaram escravas dos prazeres sensuais ou que anseiam por ganhos materiais ou poder mundanos. Do contrário, a santidade e a verdade em uma religião poderiam ser abusadas.

O Futuro Buddha

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“Não sou o primeiro Buddha a surgir nesta terra; nem serei o último. Previamente, existiram muitos Buddhas que apareceram neste mundo. No devido tempo, outro Buddha surgirá neste mundo dentro neste ciclo mundial”.

Quando o Buddha estava prestes a morrer, o Venerável Ananda e muitos outros discípulos choraram. O Buddha disse: ‘Basta, Ananda. Não se permita ficar agitado. Não chore. Já não havia lhe dito que é da natureza das coisas que elas desapareçam? Devemos nos separar de tudo que nos é próximo e querido. A pessoa tola concebe sua idéia de ‘eu’; o homem sábio vê que não há base sobre a qual construir o ‘eu’. Dessa forma, o homem sábio possui uma concepção correta a respeito do mundo. Ele compreenderá que todas as coisas compostas se dissolverão mais uma vez; mas a Verdade sempre permanecerá’.

Prosseguiu o Buddha: ‘Por que devo preservar este corpo quando o corpo da lei excelente irá continuar? Estou decidido. Completei meu propósito e fiz o trabalho que me propus. Ananda, por um longo período você tem estado perto de mim em pensamentos, palavras e atos de muito amor imensuráveis. Você trabalhou bem, Ananda. Seja diligente nos esforços e você também, brevemente, se libertará das prisões! Você será livre da sensualidade, da ilusão e da ignorância’. Suprimindo suas lágrimas, Ananda disse ao Buddha: ‘Quem nos ensinará quando o Senhor tiver partido?’ E o Buddha o instruiu a respeito de considerar Seu Ensinamento como o Mestre.

O Buddha prosseguiu ainda: ‘Não sou o primeiro Buddha a surgir nesta terra; nem serei o último . No devido tempo, outro Buddha surgirá neste mundo, um Valoroso, um Supremamente Iluminado, dotado de sabedoria, conduta auspiciosa, conhecedor do universo, incomparável líder dos homens, um mestre de devas e homens. Ele revelará as mesmas Verdades Eternas que ensinei a vocês. Ele proclamará uma vida religiosa, totalmente perfeita e pura; tal como eu agora a proclamo’.

Como o conheceremos?’, perguntou Ananda. O Buddha respondeu: ‘Ele será conhecido como Metteya (skr. Maitreya), que significa bondade ou amizade’.

Os buddhistas acreditam que as pessoas que no presente têm feito ações meritórias levando uma vida religiosa terão uma chance de renascerem como seres humanos no tempo do Buddha Metteya e obterão um Nibbāna idêntico ao do Buddha Gautama. Dessa maneira, encontrarão a salvação por meio da orientação de Seu Ensinamento. Seu Ensinamento será uma esperança de um futuro remoto para todos. Entretanto, de acordo com o Buddha, as pessoas devotas religiosas podem obter a benção nibbanica a qualquer momento se realmente trabalharem para isso, seja um Buddha aparecendo ou não.

‘Tanto quanto meus discípulos levarem uma pura vida religiosa, o mundo nunca estará vazio de Arahants’. Maha Parinibbāna Sutta