As Quatro Nobres Verdades – 2

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Algumas pessoas podem ter a impressão de que ver a vida em termos de dukkha é um tanto pessimista ou negativo. Essa não é uma maneira pessimista, mas realista. Se alguém padece de uma doença e se recusa a reconhecer o fato de que se está doente e, como resultado, recusa buscar um tratamento, não consideraremos tal atitude mental como sendo otimista, mas meramente como tola. Portanto, ao ser otimista ou pessimista, a pessoa não compreende realmente a natureza da vida e, assim, é incapaz de considerar os problemas da vida sob a perspectiva correta. As Quatro Nobres Verdades começam com o reconhecimento de dukkha e então procedem analisando sua causa e buscando sua cura. Se o Buddha tivesse parado na Verdade de Dukkha, então se poderia dizer que o Buddhismo identificou o problema, mas não ofereceu a cura; se fosse esse o caso, então a situação humana não teria esperança. Entretanto, não somente a Verdade de Dukkha é reconhecida, mas o Buddha procedeu analisando sua causa e o caminho da cura. Como pode o Buddhismo se considerado pessimista se a cura do problema é conhecida? De fato, este é um ensinamento repleto de esperança.

Além disso, ainda que dukkha seja uma nobre verdade, isso não significa que não haja felicidade, desfrute e prazer na vida. Existem, e o Buddha ensinou vários métodos a partir dos quais podemos obter mais felicidade em nossa vida diária. Entretanto, numa análise final, o fato permanece de que o prazer ou a felicidade que experienciamos na vida é impermanente. Podemos desfrutar de uma situação feliz, da boa companhia de alguém que amamos ou desfrutar da juventude e da saúde. Cedo ou tarde, quando esses estados sofrerem uma mudança, experienciaremos sofrimento. Dessa forma, ainda que haja todas as razões para nos sentirmos alegres quando experienciamos felicidade, não deveremos nos agarrar a tais estados felizes ou nos desviarmos e nos esquecermos de continuar nosso esforço no caminho da completa Libertação.

Se desejarmos nos curar do nosso sofrimento, precisaremos primeiramente identificar sua causa. De acordo com o Buddha, a ânsia ou desejo sedento (tanha ou raga) é a causa do sofrimento. Essa é a Segunda Nobre Verdade. Pessoas anseiam por experiências agradáveis, anseiam por coisas materiais, anseiam pela vida eterna e, quando desapontadas, anseiam pela morte eterna. Não estão apenas apegadas aos prazeres sensuais, riqueza e poder, mas também a idéias, visões, opiniões, conceitos, crenças. E o anseio está conectado com a ignorância, ou seja, não ver as coisas como realmente são ou fracassar em entender a realidade da experiência e da vida. Sob essa ilusão do Self e não compreendendo anatta (não-self), uma pessoa se apega a coisas que são impermanentes, mutáveis e perecíveis. O fracasso em satisfazer os próprios desejos através dessas coisas causa desapontamento e sofrimento.

4 comentários em “As Quatro Nobres Verdades – 2

    Eliane disse:
    2 dezembro, 2010 às 6:48 pm

    Pela primeira vez vejo a palavra ‘esperança’ … “este é um ensinamento repleto de esperança.” eu gostaria de compreender mais claramente o significado de esperança no Buddhismo; alguém pode esclarecer? Obrigada.

    Índice « No Que Os Buddhistas Acreditam disse:
    20 dezembro, 2010 às 8:05 am

    […] As Quatro Nobres Verdades – 2 […]

    Lincoln Carasilo disse:
    22 setembro, 2013 às 9:48 pm

    Quanto mais leio mais compreendo. Interessante que muitos conceitos Buddistas sempre estiveram dentro de mim sem eu ter percebido. Está difícil encontrar o Buddismo na cidade que moro. Mas sou persistente, não desisto nunca. Estou com 51 anos passei por diversos caminhos sempre em busca do que procuro. Pelo jeito encontrei o que procurava.

    As 4 Nobres Verdades « Olhar Budista disse:
    21 novembro, 2016 às 9:50 am

    […] NoQueOsBuddhistasAcreditam: As Quatro Nobres Verdades – Parte 1 | Parte 2 […]

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